Foram as maiores explosões na capital desde dezembro
Um duplo atentado a bomba deixou ao menos 55 mortos e 372 feridos ontem em Damasco, segundo o Ministério do Interior sírio. As maiores de uma série de explosões que têm ocorrido na capital síria desde dezembro deixaram a impressão de que a Síria está se distanciando do tipo de luta armada travada na Líbia no ano passado e mergulhando na violência indiscriminada que tomou conta do seu vizinho Iraque depois da queda de Saddam Hussein, em 2003.
Com um intervalo de fração de segundos, duas bombas potentes explodiram em frente ao prédio da Filial Palestina da Inteligência Militar, em um complexo de segurança no trevo de Al-Qazaz, no trecho sul do rodoanel de Damasco. De acordo com o Ministério do Interior, os mais de 1.000 kg de explosivos estavam em dois veículos conduzidos por “terroristas suicidas”. “As explosões abriram dois buracos, um de 5,5 por 3,3 metros e 1 metro de profundidade, e outro de 8,5 metros de largura por 2,5 de profundidade”, informou o ministério, citado pela agência oficial Sana.
As explosões, que foram ouvidas em grande parte da cidade, ocorreram às 7h56 de Damasco (1h56 em Brasília), quando muitos trabalhadores chegavam ao trabalho e crianças entravam numa escola próxima. Muitos pedaços de corpos ficaram espalhados pelas ruas e calçadas. O Hospital Al-Mowasat, o mais próximo do local, ficou abarrotado de feridos. O Observatório Sírio de Direitos Humanos, ligado à oposição e com sede em Londres, afirmou que 59 pessoas morreram, a maioria integrantes das forças de segurança.
O Ministério do Interior informou que 15 sacos com pedaços mutilados de cadáveres foram retirados da área. A agência Sana publicou no seu site uma sequência de fotos mostrando esse cenário. O ministério disse ainda que 400 casas foram atingidas, 105 carros completamente destruídos e outros 78, danificados.
Ninguém havia reivindicado até ontem a autoria do atentado. Um grupo denominado Frente Al-Nusra para Proteger o Levante assumiu os atentados a bomba de janeiro e de março em Damasco e de fevereiro em Alepo, a segunda cidade mais importante do país. Fontes que tiveram acesso a informações do serviço de inteligência americano disseram ao Estado no mês passado que os autores desses atentados tinham relação com a Al-Qaeda – possivelmente a sua filial iraquiana.
De acordo com a agência Reuters, a televisão síria mostrou um homem apontando para os escombros e dizendo: “Isso é liberdade? Isso é trabalho dos sauditas.” A Arábia Saudita, juntamente com seu vizinho Catar, tem defendido a entrega de armas aos rebeldes.
Nadine Haddad, que foi candidata às eleições parlamentares de segunda-feira, boicotadas pela oposição, responsabilizou o primeiro-ministro do Catar, Hamad bin Jassim al-Thani: “Que vergonha, xeque Hamad. Você agora está destruindo o povo sírio, não o regime. Você está matando crianças a caminho da escola.” O governo do Catar condenou o atentado e pediu que os dois lados ponham fim ao derramamento de sangue.
O Ministério das Relações Exteriores sírio enviou uma carta ao Conselho de Segurança da ONU pedindo a adoção de “medidas contra países, grupos e agências de notícias que estão praticando e encorajando o terrorismo”, segundo a agência estatal Sana.
A Rússia, que ao lado da China tem bloqueado sanções contra a Síria no Conselho de Segurança, também fez acusações veladas. “Alguns de nossos parceiros estrangeiros estão fazendo coisas práticas para que a situação na Síria exploda nos sentidos literal e figurado”, disse o chanceler russo, Serguei Lavrov, segundo a Reuters.
O Conselho de Segurança, o governo americano e a União Europeia condenaram o que chamaram de “atentado terrorista”. Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, disse no entanto que esses grupos não são representativos da oposição ao regime de Bashar Assad.
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