Militares investigam atentados em Damasco
O general norueguês Robert Mood, comandante da missão de observadores da ONU na Síria, foi inspecionar o local do atentado ontem de manhã. Os repórteres perguntaram o que ele tinha a dizer ao povo sírio sobre o que estava vendo. “Isso não vai resolver nenhum problema”, reagiu o general. “Só vai criar mais sofrimento para mulheres e crianças.”
O capitão-de-mar-e-guerra brasileiro Alexandre Feitosa, encarregado do planejamento da missão, disse no fim da noite ao Estado que a equipe ainda estava procurando entender o que aconteceu ontem, e que esperava que hoje o episódio ficasse mais claro. Na véspera, uma bomba explodiu na estrada que dá acesso a Deraa, no sul do país, no momento em que o comboio da ONU passava. Um caminhão do Exército que fazia a escolta dos observadores foi atingido e ao menos um tenente sírio ficou levemente ferido.
Em entrevista publicada horas antes no jornal Asharq al-Awsat, editado em Londres por uma editora saudita, o coronel Riad al-Asaad, comandante do Exército Sírio Livre (ESL), havia qualificado a missão da ONU de “falsas testemunhas” de “assassinatos, prisões e bombardeios” e advertido que os rebeldes atacariam veículos militares das forças leais ao regime com explosivos. No mesmo dia, sete milicianos foram mortos em Irbin, na periferia de Damasco quando o ônibus em que viajavam foi atingido por foguetes portáteis, segundo ativistas.
Na entrevista, Asaad ressalvou: “Atentados a bomba não são parte de nossa ética, e não precisamos deles.” Tudo indica que o regime sírio enfrenta ameaças em duas frentes distintas: de um lado, as táticas de guerrilha do ESL contra as forças regulares e irregulares leais a Bashar Assad; de outro, ações terroristas que empregam bombas e suicidas contra instalações do vasto aparato de inteligência sírio, causando grande número de mortes tanto de agentes de segurança quanto de civis.
O Exército sírio é o responsável pela proteção dos observadores da ONU, tanto nos postos fixos quanto nos deslocamentos, embora nas patrulhas e sempre que quiserem fazer contatos com rebeldes ou com a população eles possam dispensar a escolta e ir sozinhos.
“Estamos preparados para esse tipo de ameaça”, disse ao Estado na quarta-feira, no calor do ataque ao comboio, o fuzileiro naval brasileiro, que serve no Departamento de Operações de Manutenção da Paz, com sede em Nova York. “Não é encarado como surpresa nem como algo novo.” Feitosa confirmou ontem à noite que com a chegada de novos observadores ontem e hoje o contingente se elevaria a 150. Até quarta-feira eles eram 51, distribuídos por Deraa, Damasco, Homs, Hama, Idlib e Alepo. Com o reforço, a missão se estenderá aos portos de Tartus e Latakia e à cidade de Deir az-Zaur, no leste do país. Até o fim da semana que vem eles serão 200. O Conselho de Segurança aprovou um efetivo de 300 observadores. Desses, entre 10 e 11 serão brasileiros.
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