‘Egípcios não acreditam que eleições terão efeito’

Diretora de instituto que monitora votação diz que muitos não sabem onde votar

CAIRO – Os eleitores egípcios não entendem o sistema eleitoral nem confiam nele, em razão do histórico de fraudes. Além disso, os conflitos entre a polícia e os manifestantes desestimulam o comparecimento. Muitos eleitores nem sabem onde vão votar, por causa de uma redistribuição das seções eleitorais. A avaliação é da economista e cientista política Samar el-Hussieny, diretora de treinamento do Instituto Andalus, que monitora as eleições egípcias desde 2005. A organização não-governamental, financiada por programas dos Estados Unidos e da União Europeia, participa de uma rede de 126 entidades, com 3 mil observadores, que vão atuar nas eleições parlamentares que começam hoje e prosseguem em seis etapas até março. Samar concedeu a seguinte entrevista ao Estado.

Como será o trabalho de vocês?

Nossa equipe estará nos locais de votação e de lá enviará mensagens pelo celular com suas observações, que serão publicadas no nosso site na internet.

Quantos observadores vocês têm?

Temos 300 egípcios, que atuarão nos 9 Estados nos quais haverá eleição amanhã (hoje). Além desses há 45 observadores estrangeiros para as 3 etapas das eleições em 3 grupos de Estados. Amanhã (hoje) estarão atuando 10. Eles vão a 4 Estados testemunhar as eleições e enviar suas observações para o nosso site. Também farão blogs em suas línguas nativas. No final farão uma carta para o povo egípcio sobre o que viram e sua avaliação da transição democrática no Egito. Vamos publicar todas essas cartas em um livro. 

Vocês consideraram as eleições anteriores justas?

Não, constatamos muitas fraudes. As pessoas vendiam seus votos, candidatos forçavam eleitores a votarem neles, havia alto nível de violência. As eleições eram fraudadas para o Partido Democrático Nacional, do governo, ou para seus aliados. O comparecimento não era alto, porque as pessoas não confiavam no processo. Mesmo as leis não eram claras.

Havia relatos de urnas que eram esvaziadas e preenchidas com votos para o governo?

Sim, havia diferentes formas de fraude. 

Qual a porcentagem média de comparecimento?

O índice oficial não chegava a 30% e o real, a 10%. 

A senhora espera um comparecimento alto?

Não, por causa da violência, dos conflitos na Praça Tahrir. E também porque as pessoas não acreditam que essas eleições terão um grande efeito sobre a arena política. Além disso, muita gente não sabe onde vai votar. As seções eleitorais foram redistribuídas, e se tornaram mais abrangentes que antes. Muitos não entendem a lei eleitoral, o sistema proporcional, e não sabem como votarão.  

A senhora acha que a democracia pode fincar raízes no Egito?
Sim, se nos livrarmos do regime militar, que domina o país há 60 anos. A mentalidade militar não acredita na democracia, mas em ordens. Se você disser que a maioria quer algo, eles respondem: ‘Não, mas nós entendemos melhor que vocês.’ Depois da revolução tínhamos uma ideia de como devia ser a transição: primeiro redigir uma nova Constituição, depois realizar eleições. Eles fizeram tudo ao contrário: eleições parlamentares primeiro, depois uma constituinte, depois eleição presidencial.   

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*