Jornalistas voltam a ser atacados

Clima lembra distúrbios de janeiro e fevereiro

CAIRO – Além da frustração causada pelas concessões da junta militar e da volta do ambiente revolucionário na Praça Tahrir, outro aspecto que lembra os acontecimentos de janeiro e fevereiro no Cairo são os ataques a jornalistas. Desde quarta-feira, eles já somam ao menos três. No caso de duas mulheres, além do espancamento, houve agressões sexuais, segundo seus relatos.

O fotógrafo espanhol Guillermo Valle contou ao Estado que na quarta-feira foi puxado pelos braços por vários homens à paisana numa rua adjacente à Praça Tahrir até um cordão policial. Policiais fardados o espancaram, tomaram todo o seu dinheiro e equipamento fotográfico e o colocaram num caminhão, em que havia cerca de 50 egípcios detidos. Depois de rodarem durante 3 horas, soltaram o fotógrafo, mantendo os outros presos.

A repórter francesa Caroline Sinz, da rede de TV France 3, contou que ela e seu cinegrafista foram agarrados na quinta-feira por adolescentes de 14 a 16 anos de idade na Praça Tahrir e separados um do outro. Ela disse que os rapazes a esmurraram, arrancaram suas roupas, incluindo as de baixo, e a agrediram sexualmente, “na frente de todos e em plena luz do dia”.

Na madrugada de quinta-feira, a jornalista egípcia de origem americana Mona el-Tahawy, de 44 anos, foi presa na linha de frente do confronto com a polícia nos arredores do Ministério do Interior, antes de começar a vigorar uma trégua a partir das 6 horas da manhã daquele dia. Ela disse que os policias a golpearam com cassetetes, quebrando seu braço esquerdo e sua mão direita. Mona contou que os policiais agarraram seus seios e colocaram as mãos entre as suas pernas.

Dois problemas da sociedade egípcia se misturam nesses incidentes: as frequentes agressões sexuais contra mulheres e a falta de liberdade de imprensa. “O controle sobre a imprensa continua igual ao que era antes da revolução”, disse ao Estado o jornalista Sami Shehata, diretor de um canal de TV estatal. “Só existe liberdade para servir aos interesses dos militares. Não há revolução sem bons meios de comunicação.”

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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