Ministro do Interior garante que comparecimento será grande

Respondendo a pergunta do ‘Estado’, Najar afirma que prisão domiciliar de líderes oposicionistas segue a lei

TEERÃ – O ministro do Interior do Irã, Mostafa Najar, afirmou ontem que as eleições parlamentares de amanhã serão “gloriosas”, com comparecimento dos eleitores “mais maciço do que no passado”, apesar de os principais grupos de oposição estarem banidos e seus líderes, sob prisão domiciliar e impedidos de dar declarações públicas. A oposição conclamou os eleitores a boicotar a votação.

“Eles estão sob prisão domiciliar de acordo com a legislação iraniana”, disse Najar, respondendo a uma pergunta do Estado durante entrevista coletiva, sobre se essa situação não colocava em questão a legitimidade das eleições. “Foram eles que se separaram do caminho da nação”, continuou o ministro, referindo-se a Mir Hossein Moussavi e Mehdi Karoubi, principais candidatos da oposição na eleição presidencial de 2009. O anúncio da vitória do presidente Mahmud Ahmadinejad desencadeou acusações de fraude e uma onda de repressão e perseguições que praticamente dizimaram a oposição.

“O que a oposição diz não tem lógica”, continuou o ministro. “O que quer que eles digam, vai se voltar contra eles.” Najar disse que “dezenas de milhões” de pessoas saíram às ruas em todo o Irã no dia 11, para celebrar o 33o aniversário da Revolução Islâmica, numa “manifestação épica” – segundo ele, a maior desde a ascensão do regime em 1979. “Esperamos outra participação gloriosa na eleição do dia 2.”

“Quase todos os grupos sociais estão participando das eleições”, assegurou o ministro. “Todos os que aceitam o princípio da República Islâmica. Você vê diferentes listas (de candidatos), as pessoas podem escolher segundo diferentes gostos.” De fato há uma disputa, mas é no interior da corrente conservadora, entre os partidários de Ahmadinejad e os que apoiam o líder espiritual, aiatolá Ali Khamenei. O presidente defende o regime islâmico, mas luta por mais poder para os laicos, em detrimento dos clérigos.

Dos 5.395 candidatos, 1.951 (36%), incluindo 35 deputados atuais, foram vetados pelo Conselho Guardião, subordinado a Khamenei. Aparentemente o veto não atingiu apenas reformistas, mas também partidários de Ahmadinejad. À pergunta sobre rumores de que o próprio presidente também estaria defendendo um boicote, por causa do veto de mais de 100 candidatos ligados a ele, Najar riu: “O presidente está encorajando as pessoas a participar da votação. Não procede essa versão.”

“A desqualificação dos candidatos está de acordo com a lei”, defendeu o ministro. “O Conselho Guardião analisa as qualificações dos candidatos. Todos aceitam (suas decisões).” Veterano da guerra Irã-Iraque, assim como Ahmadinejad e a maioria de seu gabinete, Najar é leal ao presidente.

“Aqueles que afirmam ser democracia mas não o são de verdade assistirão a esse glorioso movimento de pessoas”, previu o ministro, sem querer arriscar uma porcentagem de comparecimento, que nas últimas eleições parlamentares, em 2008, foi de 61%. “Essa é uma forma de democracia religiosa.”

Sobre a ausência de campanha nas ruas, Najar explicou que as campanhas hoje em dia são feitas na internet, “24 horas por dia”. “Talvez as campanhas mecânicas, físicas, não sejam mais efetivas.”
Estado ouviu ontem eleitores nas ruas. Alguns disseram que vão votar. Mas a maioria se mostrou apática. Parte deles está desencorajada pelo que aconteceu na eleição presidencial de 2009, manchada pelas suspeitas de fraude e pela violenta repressão aos protestos. Outros disseram estar desiludidos há mais tempo, com a falta de opções mesmo em eleições anteriores. 

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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