Manifestantes se veem em batalha final contra militares

Concessões são consideradas “muito pouco muito tarde”

CAIRO – Os manifestantes da Praça Tahrir vêem essa nova onda de protestos como a continuação de uma revolução inconclusa, a batalha final contra o verdadeiro inimigo, que se escondia por trás dos ditadores – a cúpula militar. As últimas atitudes do marechal Mohamed Hussein Tantawi e de seu Conselho Superior das Forças Armadas só têm servido para sublinhar a sensação de déjà vu.

Primeiro, veio a repressão violenta. Agora, Tantawi apresenta concessões que despertam o sentimento de “muito pouco muito tarde”.

Durante nove meses, o amplo espectro da sociedade egípcia que saiu às ruas e derrubou Hosni Mubarak esperou, ainda que em clima de tensão e impaciência, a definição de um calendário claro que conduzisse à transição democrática, entendida como a transferência do poder dos militares para os civis. Nesse período, assistiram à consolidação do poder dos militares, que pareceram mais ocupados em conformar a nova Constituição e o futuro regime aos seus interesses do que propriamente a uma transição para a democracia.

O auge desse processo foi a divulgação, no início do mês, de um plano que dava aos militares poderes de nomear 80% dos constituintes, esvaziando o papel do novo Parlamento, e ainda blindando as Forças Armadas de ingerência dos futuros poderes civis nos assuntos de seu interesse. Curiosamente, num dado momento, os liberais namoraram com a idéia de que os militares seriam o garante do Estado secular, como na Turquia. Por isso essa onda de protestos foi lançada pela Irmandade Muçulmana, cujo novo partido, Liberdade e Justiça, é favorito nas eleições parlamentares. O receio de ganhar e não levar os levou às ruas, e em seguida os tirou, diante do risco de cancelamento das eleições.

Por isso este é um momento definidor para o Egito: está em jogo não só o papel dos militares, mas o difícil equilíbrio entre democracia e secularismo.

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