Annan conclui missão sem chegar a acordo

Assad rejeita saída negociada enquanto houver “terroristas armados” na Síria

ANTAKYA, Turquia – O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan concluiu ontem dois dias de visita a Damasco sem chegar a um acordo para por fim à guerra civil no país Annan defendeu um cessar-fogo, seguido de “reformas democráticas”, mas o presidente Bashar Assad respondeu que uma saída negociada seria impossível enquanto “terroristas armados” estivessem atuando na Síria. Durante a permanência de Annan, o Exército sírio realizou uma ofensiva à cidade de Idlib, no noroeste do país, que deixou ao menos 119 mortos, segundo comitês locais.

O ex-secretário-geral da ONU havia pedido no sábado cessar-fogo, libertação dos presos políticos e acesso irrestrito das agências humanitárias à população. Assad pediu tempo para pensar. “É preciso começar parando a matança, o sofrimento e o abuso que está ocorrendo hoje, e então dar tempo para um acordo político”, declarou ontem Annan, antes de seguir para o Catar, cujo governo tem proposto abertamente que a comunidade internacional forneça armas aos combatentes rebeldes. Annan, que nasceu em Gana, contou ter pedido a Assad que seguisse um provérbio africano: “Você não pode virar o vento, então vire a vela.”

Tropas leais ao governo apoiadas por tanques e artilharia avançaram no sábado contra Idlib. Moradores tentaram fugir e combatentes do Exército Sírio Livre (ESL) bateram em retirada. Mesmo assim, só no sábado, 39 civis, 39 combatentes rebeldes e 20 soldados morreram na cidade e nas áreas ao redor, somando 98 pessoas. Outros 16 civis e 5 soldados morreram ontem, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado em Londres, totalizando 119 pessoas no fim de semana. Os disparos de canhões podiam ser ouvidos ontem do lado turco da fronteira.

“Mandamos nossas forças se retirarem de Idlib para evitar uma repetição do que ocorreu em Homs”, disse ontem ao Estado o capitão Ayham al-Kurdi, do ESL, referindo-se à ofensiva que devastou a cidade do centro-oeste da Síria dez dias atrás. “Mantivemos apenas pequenos grupos para proteger algumas áreas.”

“Anunciamos que sairíamos de Idlib, mas o governo não levou isso em conta e bombardeou a cidade, com tanques, artilharia pesada e foguetes”, continuou o capitão, que tem atuado como porta-voz do ESL, em Antakya, perto da fronteira entre a Turquia e a Síria. “Helicópteros estão sobrevoando a cidade, mas são usados mais para reconhecimento do que para ataques.” Segundo ele, os rebeldes derrubaram um helicóptero no sábado.
“As pessoas estão fugindo da cidade porque sabem que o regime as matará”, disse Al-Kurdi. “Ele está usando a estratégia de terra arrasada.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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