Segundo oficiais do Exército, combatentes islâmicos fugiram da cidade
NIONO, Mali – A cidade de Diabaly continuava ontem uma “terra de ninguém”. De acordo com oficiais do Exército maliense, os combatentes islâmicos, que tomaram a cidade na segunda-feira, fugiram na sexta-feira, assustados com os precisos bombardeios franceses, que aparentemente mataram dezenas de militantes. Entretanto, nem os malienses nem os soldados franceses haviam ocupado até ontem à noite a cidade de 15 mil habitantes situada a 380 km ao norte da capital do Mali, Bamako.
“Diabaly está 100% nas nossas mãos, mas o Exército não está em todas partes do Mali”, justificou ontem ao Estado o capitão Cheickne Konate. O oficial comandou no sábado uma missão de reconhecimento na base do Exército em Diabaly, mas diz que não vasculhou a cidade. Sua companhia retirou uma parte da munição abandonada pelos combatentes islâmicos, que segundo ele enchia três casas, e trouxe também um veículo blindado de lá. Konate, cuja companhia está baseada em Timbuctu, cidade do norte ocupada pelos combatentes islâmicos, aguardava ordens ontem numa mata na beira do Rio Níger, cerca de 90 km ao sul de Diabaly.
O tenente-coronel Seidou Sogoba, comandante do Exército em Diabaly, também se mostrou ontem reticente sobre a situação na cidade, cuja captura na segunda-feira pelos insurgentes islâmicos representou um revés para as forças francesas, que bombardeavam posições deles mais ao norte havia três dias. Sogoba disse que “99%” dos malienses apoiam o Exército, mas que em Diabaly havia partidários dos islamistas “infiltrados” na população.
O tenente-coronel francês que chefia as operações na região, que se identifica apenas como Frédéric, admitiu que a situação em Diabaly não era clara: “Precisamos de mais informação”, disse ele, em entrevista coletiva ao meio-dia (10h em Brasília) em Niono, onde as forças francesas e malienses estão concentradas. “Temos de ser cuidadosos.” Ambos disseram, no entanto, que as tropas malienses e francesas avançariam sobre Diabaly “em breve”.
Os militares franceses no Mali já somam 2 mil, e o total deve chegar nos próximos dias a 2.500. A França aguarda a vinda de tropas dos países da África Ocidental, que se comprometeram a assumir a missão de proteger o Estado maliense do avanço dos grupos islâmicos. Além da aparente fuga dos insurgentes de Diabaly, os bombardeios franceses também resultaram na desocupação de Konna, situada pouco ao norte da linha de demarcação do território tomado pelos grupos islâmicos em meados do ano passado. A intervenção francesa, a pedido do presidente interino do Mali, Diocoundas Traoré, foi desencadeada depois que os insurgentes cruzaram essa linha, com a intenção de avançar até a capital, Bamako.
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