Discurso do presidente em Davos não convenceu organizadores do Fórum Social
PORTO ALEGRE – O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chamando atenção em Davos para os problemas sociais, não mudou a opinião dos organizadores do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre . “Cabe a Lula decidir aonde vai, mas não encontro justificativa para a sua ida a Davos, para uma liderança mundial como ele tentar ressuscitar o que estamos praticamente derrotando em termos éticos e morais”, disse ontem Cândido Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e um dos coordenadores do evento.
“Nascemos anti-Davos, hoje Davos é que é anti- Porto Alegre “, celebrou Grzybowski, durante entrevista coletiva para um balanço do fórum, encerrado na segunda-feira. A partir do ano que vem, quando se transferirá para Hyderabad, na Índia, voltando em 2005 a Porto Alegre, o fórum deixará de se realizar na mesma data do evento de Davos. “Já conseguimos deslegitimar o pensamento único neoliberal. Vocês conhecem alguém que o defende?”, perguntou Grzybowski, qualificando o fórum de uma “usina de pensar que não polui o mundo, ao contrário, lhe dá sentido”.
Grzybowski reconheceu, no entanto, que os organismos multilaterais ainda demorarão muito para adotar a agenda social preconizada pelo fórum. “Estamos longe da vitória, ainda vamos sofrer muito com o estrago da desestruturação que essas políticas (neoliberais) provocaram”, lamentou. “Ainda temos de conquistar muitos corações e mentes.”
Grzybowski fez as ponderações depois de enaltecer o crescimento do Fórum Social. Segundo ele, o Fórum deste ano teve mais jornalistas (4 mil) do que o primeiro, de 2001, teve de delegados. Os organizadores estimam que mais de 100 mil pessoas tenham participado este ano. Em 2001, foram 15 mil e em 2002, 50 mil.
À pergunta sobre se o FSM pretendia estabelecer um “diálogo” com o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Maria Luísa Mendonça, da Rede Social de Direitos Humanos e também uma das organizadoras, disse que isso não seria possível, porque ele não pode falar em nome das organizações que participam do evento.
Pela mesma razão, o Fórum Social também não tem uma declaração final. “Estamos aqui para comungar princípios e valores éticos”, disse Grzybowski. “Não é a ideologia que nos une, ela nos diferencia. Essa é nossa declaração final: a diversidade.”
É em nome dessa diversidade que o fórum vai para a Índia. Os organizadores acham que, assim, mais asiáticos e até africanos poderão participar. À pergunta sobre se não temiam que ele se esvaziasse na Índia, com um número muito menor de latino-americanos, Neuri Rosseto, do
MST, garantiu que a importância do fórum não se mede só em números.
A coletiva foi encerrada com a cantora Rosa Helena cantando hits de Mercedes Sosa, como Los Hermanos e Gracias a la Vida, muito apreciados pelos freqüentadores do fórum.