Na consulta, divulgada em Davos e Porto Alegre , EUA recebem avaliação ruim
PORTO ALEGRE – O governo brasileiro goza de imagem relativamente boa diante de stakeholders – pessoas que detêm o controle das decisões em empresas – de organizações não-governamentais (ONGs), empresas, universidades e outras instituições no mundo. A conclusão é de uma pesquisa apresentada ontem simultaneamente nos fóruns de Porto Alegre e de Davos.
Dos 296 entrevistados de 63 países, 20% disseram ter imagem negativa do governo brasileiro, enquanto 28% a consideraram positiva. A pesquisa foi feita entre os meses de agosto e outubro do ano passado pelo instituto independente Environics International. O governo com a pior imagem é o americano: 62% negativa e 26% positiva. Na média, os governos em geral têm imagem negativa para 40% e positiva para 26% dos entrevistados, a maioria dos quais (149) são dirigentes de organizações não-governamentais.
Outros governos com imagem predominantemente negativa são os da China (38% a 29%), da Rússia (35% a 17%) e da Índia (34% a 24%). Cada entrevistado pôde opinar sobre todos os governos. Ao lado do Brasil, com imagem positiva, estão o Reino Unido (39% a 33%), o Japão (36% a 26%) e a África do Sul (34% a 14%). Os governos dos próprios entrevistados também tiveram saldo positivo, de 25% a 21%.
A pior imagem é a da organização terrorista Al-Qaeda, 81% negativa e 3% positiva. Em seguida, vêm o Fundo Monetário Internacional (FMI), com 56% de imagem negativa e 20% de positiva; a Organização Mundial do Comércio (OMC), com 54% a 21%; o G-8 (grupo dos sete países mais ricos e Rússia), com 54% a 21%; as transnacionais (50% a 26%) e o Banco Mundial (45% a 31%).
A melhor imagem é a das entidades de caridade e das ONGs, vistas positivamente por 84% dos entrevistados e negativamente por 2%. Depois, vêm a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências (67% a 8%) e, surpreendentemente, a União Européia (70% a 11%).
Razões – Finn Heinrich, da ONG sul-africana Civicus, acha que a simpatia à UE tem as mesmas explicações que a antipatia aos EUA: suas posições em relação à guerra e ao meio ambiente. Os dois temas estavam em evidência no período da pesquisa, quando se realizava a Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo e os EUA falavam em atacar o Iraque.
A imensa maioria (90%) acha que a discussão sobre a globalização está excessivamente concentrada no comércio e deveria focalizar mais os direitos humanos e o meio ambiente. Uma grande fatia (81%) também rejeita a violência como forma legítima de protesto contra a globalização. Um total de 76% dos entrevistados acredita que a globalização seja algo inevitável e que o mercado funciona melhor sob forte regulamentação governamental. Já 70% discordam de que os países em desenvolvimento se beneficiam da globalização tanto quanto os desenvolvidos. E menos da metade (46%) acha que a livre iniciativa seja boa para o futuro.
A agenda dos stakeholders é bastante variada, comentou Rob Kerr, da Environics: 17% consideram prioridade a redução da distância entre pobres e ricos; 12%, a biodiversidade; 11%, a educação básica; 9%, os direitos humanos; 8%, novos modelos de desenvolvimento; outros 8% se preocupam mais com a participação dos cidadãos; 7%, com a pobreza; 6%, com a poluição, água potável, elevação espiritual, energia, democracia e corrupção.