Governo cubano aluga um clube para expor as realizações do socialismo
PORTO ALEGRE – Pela lupa da ideologia, a pequena ilha de Cuba se torna gigante. Celebrada e mistificada por milhares de participantes do Fórum Social Mundial, a ilha decidiu atender à demanda, este ano, montando um quartel-general num centro esportivo particular em frente ao ginásio Gigantinho, onde se realizam as conferências.
O Camisa 10, um clube com ginásio e campo de futebol soçaite, coincidentemente já ostentava as cores da bandeira de Cuba – branco, azul e vermelho -, facilitando a decoração. O governo cubano alugou o clube para o período do Fórum, que se encerra no dia 28. Foi inaugurado na noite de quarta-feira, com uma festa animada por grupos musicais cubanos e a presença da filha de Che Guevara, Aleida, e de Vilma Espin, mulher de Raúl, irmão de Fidel Castro, e presidenta da Federação de Mulheres Cubanas.
O ginásio do Camisa 10 cobriu-se de bandeiras e flâmulas cubanas. Foi montada uma exposição de estandes com pôsteres de Fidel, fotos e slogans revolucionários. Um deles ensina: “Revolução é unidade, é independência, é lutar por nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base de nosso socialismo e nosso internacionalismo.”
Internacionalista, o governo cubano distribui na entrada do Gigantinho uma pasta de papelão intitulada Propagandas Silenciosas – Massas, Televisão, Cinema. Trata-se de um kit contendo um livreto e duas apostilas com textos assinados pelo espanhol Ignacio Ramonet, diretor do jornal Le Monde Diplomatique. O livreto, denominado Um Delicioso Despotismo, é um opúsculo contra a globalização, apresentado numa conferência no Teatro Karl Marx, em Havana, em fevereiro do ano passado.
As duas apostilas, consumidas com grande apetite pelos jovens que se iniciam na “crítica ao sistema”, são um inventário do papel do cinema, da televisão e da internet, como veículos de propaganda a serviço do capitalismo e da alienação.
O trecho mais contundente é o último parágrafo do opúsculo: “O império norte-americano, convertido em senhor dos símbolos, apresenta-se diante de nós com a sedutora aparência dos encantadores de sempre. Ao nos propor entretenimento à mancheia, muitas distrações, guloseimas para encher nossos olhos, esse novo hipnotizador penetra em nosso pensamento e enxerta nele idéias que não são nossas. Não tenta obter nossa submissão pela força, mas pelo encantamento, não mediante uma ordem, mas por nosso próprio desejo. Não pela ameaça de castigo, mas por nossa própria sede inesgotável de prazer.”