Para embaixador Gelson Fonseca, europeus concordam com metas energéticas
JOHANNESBURG – O embaixador do Brasil na ONU, Gelson Fonseca, negou que a União Européia esteja dividida em relação à proposta de introduzir metas para o emprego de fontes renováveis de energia. “A União Européia está do nosso lado”, garantiu Fonseca ao Estado. O embaixador, que chefia a equipe de oito negociadores brasileiros nas reuniões preliminares à Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, reconheceu, no entanto, que, dos parágrafos do Plano de Implementação da Agenda 21 que tratam do tema da energia, “o mais complicado” é o que estabelece metas.
A União Européia apresentou, na reunião preparatória de Bali (maio e junho), uma proposta de meta global de 15% até 2010. Mas há um detalhe. Um trecho da proposta, que aparece no Plano de Implementação da Agenda 21 toda entre colchetes, o que indica que ainda não há consenso, diz que os países industrializados devem aumentar em 2%, até aquele ano, sua fatia de fonte renovável de energia. O que quer dizer que os países em desenvolvimento teriam que compensar maciçamente a diferença para o mundo atingir a meta.
Atualmente, a matriz energética dos países em desenvolvimento é composta de 26% de biomassa e 2,5% de hidreletricidade, que são as fontes consideradas renováveis. Já os países desenvolvidos consomem 3,4% de biomassa e 2,2% de hidreletricidade. No mundo, as fontes renováveis representam 4,4% do consumo de energia no mundo.
Isso, incluindo as grandes hidrelétricas, que grupos ambientalistas como o Greenpeace e o WWF consideram “renováveis, mas não sustentáveis”, por causa de seu impacto sobre o meio ambiente. Sem elas, a fatia cai para 2,2%. Há uma discussão sobre incluir a chamada biomassa tradicional, basicamente a lenha queimada nos países pobres.
A fatia atual subiria então para 13,9%. Mas seria um incentivo para o desmatamento e a emissão de gases poluentes. Além disso, a lenha nas cozinhas é a principal causa de mortes em ambientes domésticos.
Os países que se opõem intransigentemente à meta são os Estados Unidos, cujo governo tem ligação íntima com a indústria petrolífera, e os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com exceção da Venezuela, que aderiu. O Japão está em cima do muro.
Goldemberg – O Brasil vai apresentar uma proposta de meta, elaborada pelo secretário do Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg, para todos os países atingirem até 2010 a fatia de 10% de consumo de fontes renováveis. A proposta européia fala em produção.
A diferença é importante, porque os países desenvolvidos poderiam importar de países como o Brasil e até países pobres da África o álcool ou a madeira gaseificada, que é considerada uma fonte de energia renovável limpa.
Aí está o pulo do gato para o Brasil e para outros países em desenvolvimento. Além de reduzir as emissões de gases poluentes e de representar uma aposta numa fonte de energia potencialmente inesgotável e não sujeita às intempéries políticas mundiais, ao contrário do petróleo, o incremento do uso dessa energia pode gerar exportações e renda para os países em desenvolvimento.
Hoje em dia, essas fontes de energia são mais caras do que o petróleo, por exemplo, responsável por 35,3% do total de energia consumida no mundo, ou do que o carvão (22,3%) e o gás natural (21,1%).
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