Lula diz que vai tentar entender a ‘lógica’ quando retornar ao Brasil
SÃO TOMÉ, São Tomé e Princípe – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou certa estranheza com o fato de a Petrobrás não ter participado do primeiro leilão de campos de petróleo de São Tomé e Príncipe, realizado há uma semana. Já o presidente santomense, Fradique Menezes, admitiu ter ficado “decepcionado” com a ausência da estatal brasileira na venda dos nove blocos, que renderá ao país cerca de US$ 500 milhões.
“Sempre tenho dito que as empresas brasileiras não devem ter medo de se transformarem em multinacionais”, recordou Lula. “A Petrobrás tem tecnologia para competir com qualquer empresa do mundo, especialmente na prospecção em profundidade.” O petróleo do Brasil e o de São Tomé têm em comum o fato de estarem em águas profundas.
“A Petrobrás precisa ser mais ambiciosa, e não pensar só em atingir a auto-suficiência interna, mas precisamos prospectar muito mais, para ter mais importância no mercado mundial de petróleo”, avaliou Lula. “Se depender do presidente da República, a Petrobrás será a mais importante empresa de petróleo do mundo.”
Lula disse que, ao voltar ao Brasil, ia informar-se com a estatal sobre “qual a lógica” de ela não ter entrado no negócio, que atraiu gigantes como a Exxon-Mobil e a Chevron-Texaco. Mas ressalvou que não cabe ao governo decidir se a empresa participa ou não de leilões.
Essas declarações foram feitas durante entrevista coletiva no Palácio do Povo. Mais cedo, na inauguração da embaixada do Brasil em São Tomé, Lula observou que, “se for verdade” que São Tomé tem todo esse petróleo que se estima, “daqui a alguns anos, pode se tornar um dos países de maior renda per capita do mundo”. A ilha de mil quilômetros quadrados tem apenas 176 mil habitantes.
“A Petrobrás pode vir disputar petróleo aqui”, afirmou o presidente. “O Celso (Amorim, chanceler) está dizendo que tenho que dar ordem. Vou deixar para dar ordem no Brasil.” O ministro das Relações Exteriores disse, depois, que a ausência da Petrobrás em São Tomé lembrava o caso da Vale do Rio Doce: “Durante anos tentamos estimulá-la a explorar carvão em Moatize (Moçambique). Agora que é privada, ela se interessou. Só que agora tem muitos concorrentes.”
O presidente Fradique Menezes disse que é “evidente” que gostaria que a Petrobrás tivesse participado. “Mas o trabalho da Agência Nacional de Petróleo (ANP) é tão importante quanto concorrer numa licitação.” Em sua segunda missão na ilha desde julho, uma advogada e uma engenheira da ANP estão prestando assistência ao governo local para criar um marco regulatório para a exploração do petróleo, recém-descoberto. O trabalho permite recolher informações privilegiadas sobre o potencial petrolífero da ilha – ainda não quantificado -, que poderiam depois ser repassadas para a Petrobrás.
O presidente de São Tomé declarou esperar que a estatal brasileira dispute o próximo leilão, que deve ser realizado dentro de seis meses. As áreas são compartilhadas com a Nigéria, que divide o mar territorial com São Tomé e Príncipe. Do leilão anterior, 60% do dinheiro arrecadado vai para a Nigéria e 40% para São Tomé.
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