Eles devem ser incluídos numa nova estrutura de financiamento internacional, ao lado dos latino-americanos
LUANDA, Angola – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem em Angola que pretende incluir os países africanos numa nova estrutura de financiamento internacional, cuja criação ele vem negociando com os países da América Latina. Lula fez a afirmação, durante entrevista coletiva, ao responder a uma pergunta sobre como pretendia financiar todos os programas de cooperação e os investimentos que tem prometido fazer na África, quando o cobertor é curto dentro do próprio Brasil.
O presidente disse que o financiamento de políticas internas e externas são “duas coisas totalmente diferentes”. Para o financiamento de exportações e de obras de empresas brasileiras no exterior, o País conta com os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O fato de abrirmos linhas de crédito, via BNDES, para infra-estrutura em Angola e em outros países africanos não atrapalha em nenhum momento qualquer investimento que tenhamos que fazer internamente no Brasil”, disse Lula. “Até porque o BNDES empresta dinheiro para projetos da iniciativa privada. Quanto mais demanda tiver, mais ele pode captar recursos para fazer essa política.”
Lula lembrou que, desde o encontro em maio do Grupo do Rio, em Cusco (Peru), o Brasil e seus vizinhos estão “tentando criar uma instituição financeira sul-americana”, unindo recursos de órgãos como o BNDES, o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e a Comunidade Andina de Fomento (CAF). “Isso pode ser estendido, se essa experiência der certo, aos países da África, porque precisamos de instituições financeiras para financiar o desenvolvimento e a infra-estrutura desses países”, afirmou.
“Estamos num novo século, num novo milênio. Não precisamos ficar repetindo tudo o que foi feito no século passado”, argumentou Lula, em entrevista conjunta com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, no aeroporto de Luanda, antes de embarcar para Maputo, capital de Moçambique. “Temos que tentar criar instituições novas, para que a gente possa ter o dinheiro necessário para gerar outro dinheiro para o crescimento da nossa economia e da economia dos países pobres.”
“Não podemos ficar dependendo apenas do dinheiro do Banco Mundial”, explicou Lula. “É importante, mas não dá para tudo.” O presidente disse estar convencido de que, “num curto espaço de tempo”, serão encontrados “mais recursos para financiar a infra-estrutura dos países em desenvolvimento”.
O presidente contou ter recebido outro dia em seu gabinete o mexicano Carlos Slim, considerado o empresário mais rico da América Latina, dono do Grupo Carso, controlador da Telmex, que vem fazendo aquisições na área de telefonia celular no Brasil. “Ele está com uma idéia de propor aos países da América Latina a criação de uma instituição financeira público-privada, ou seja, para poder ajudar no financiamento de obras de infra-estrutura de integração regional.”
No caso de Angola, as linhas de crédito brasileiras estão praticamente esgotadas pelo financiamento das obras da Hidrelétrica de Capanda, executadas pela Odebrecht e Furnas. Essas linhas são limitadas a um teto de 45% do desembolso anual para o pagamento – em petróleo – da dívida que Angola tem para com o Brasil, de US$ 997 milhões.
Num país que vem de três décadas de guerra civil, só terminada no ano passado, há uma enorme demanda de obras de infra-estrutura e de construção de fábricas, identificada por cerca de 60 empresários dos mais diversos setores, que realizaram um fórum em Luanda nos últimos dois dias, acompanhados do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan. “É um país rico”, constatou Furlan. “E está tudo por fazer.”
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