Ataque realizado na área mais segura da capital afegã tinha como alvo a embaixada dos EUA
CABUL – Numa eloquente amostra de sua disposição de perturbar as eleições de quinta-feira, o Taleban realizou ontem um atentado suicida com carro-bomba em frente ao quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o lugar mais vigiado de Cabul. De acordo com o Ministério da Defesa, 7 civis afegãos morreram e 90 pessoas feridas, incluindo uma parlamentar e quatro soldados afegãos. Quatro militares da Otan também foram feridos. Depois de passar por dois bloqueios do Exército afegão, o suicida detonou os explosivos em frente a um bloqueio mais bem guardado, pelo qual só passam veículos militares e da ONU. O atentado ocorreu às 8h30 (1h em Brasília), na volta ao trabalho depois do descanso semanal de sexta-feira.
O Taleban assumiu o atentado, o primeiro contra o quartel-general da Otan. O porta-voz Zabihullah Mujahed disse que o alvo era a embaixada americana, situada a menos de 100 metros do local. A rua fica próxima também do palácio presidencial, no bairro de Wazir Akbar Khan, onde se concentram as embaixadas e escritórios de agências internacionais. Muitos dos feridos, atingidos por pedaços de vidro, são funcionários do Ministério dos Transportes, que fica em frente ao quartel-general.
Foi o primeiro atentado a bomba em Cabul desde janeiro, quando a embaixada da Alemanha foi atacada. Um ataque de comandos taleban em fevereiro contra repartições do governo matou 19 pessoas. Há uma semana, oito foguetes atingiram a cidade. Dois deles caíram perto da embaixada americana, ferindo levemente dois civis afegãos.
O Taleban prometeu realizar 200 ataques suicidas no dia da eleição e cortar os dedos dos eleitores que tiverem a tinta indelével usada para identificar quem já votou. Num comunicado, o presidente Hamid Karzai reagiu ontem: “Os inimigos do Afeganistão querem espalhar o terror, mas devem saber que os afegãos estão conscientes do valor das eleições e votarão pela segurança e pela paz.”
O mês de julho foi o mais violento desde o início do conflito, em outubro de 2001, com 75 militares estrangeiros mortos. O recorde anterior tinha sido 26, em setembro do ano passado. Parte das mortes ocorreu numa operação para expulsar cerca de 500 combatentes taleban de áreas urbanas da província de Helmand (sul). Chamada de Operação Garra da Pantera, ela durou cinco semanas e envolveu 3 mil soldados.
Muitos militares da Otan e afegãos têm sido atingidos também por bombas caseiras colocadas na beira das estradas, sobretudo nas províncias de Kandahar e Helmand, no sul, e Kunduz, no norte. Três morreram num ataque desse tipo na quinta-feira. O número de soldados americanos, de 32 mil há um ano, aumentou para 62 mil e deve chegar a 68 mil até o fim deste ano. Somando-se ao efetivo dos outros países membros da Otan, no total há 101 mil soldados estrangeiros no Afeganistão.
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