Eleição afegã deve ter 2º turno, indica pesquisa

Karzai é o favorito, mas não deve obter os votos suficientes para ser reeleito na quinta-feira; para eleitores, aliança de opositores é boa opção

CABUL – Pesquisa de intenção de voto divulgada ontem confirma a liderança do presidente Hamid Karzai na eleição presidencial de quinta-feira. Realizada entre os dias 16 e 26 de julho, a sondagem também confirma a perspectiva de segundo turno, seis semanas depois do primeiro. A campanha presidencial provocou uma escalada sem precedentes no conflito com os taleban, que prometeram sabotar as eleições. Um segundo turno deve estender por mais tempo o recrudescimento do conflito.

De acordo com a pesquisa do Instituto Republicano Internacional, uma organização americana apartidária que monitora o processo eleitoral no Afeganistão, 44% dos eleitores pretendem votar em Karzai; 26%, no ex-chanceler Abdullah Abdullah; 10% em Ramazan Bashardost, ex-ministro do Planejamento e deputado; o ex-ministro das Finanças Ashrafi Ghani, que noutras pesquisas aparece em terceiro lugar, vem em quarto, com 6%.

Num dado que pode parecer preocupante para Karzai num segundo turno, 58% dos entrevistados disseram que uma aliança entre Abdullah e Ghani seria “uma boa opção para o Afeganistão”. A pesquisa indica também que 81% têm uma “opinião favorável sobre as qualidades de liderança” de Karzai e 71%, de Abdullah, que lutou ao lado do general tajique Ahmed Shah Massud (morto em atentado em 2001) contra os taleban, na Aliança do Norte. Bahardost, de etnia hazara (minoria de origem mongol), obteve 60% nesse quesito e Ghani, doutor em antropologia pela Universidade de Columbia (Nova York), 60%.

Numa demonstração de força, o deputado Mohammed Almas, que também foi general no exército de Massud, reuniu ontem cerca de 4 mil líderes tribais das províncias de Cabul, Parwan e Kapisa (as duas últimas a noroeste da capital afegã) para manifestar apoio a Karzai. O evento ocorreu num local de forte simbolismo: a imensa tenda na qual foi realizada, em dezembro de 2001, a loya jirga (assembléia de anciãos) que confirmou Karzai – então o preferido dos Estados Unidos – chefe do governo de transição, até as eleições de outubro de 2004, quando ele foi eleito presidente. Na sua primeira eleição, Karzai teve 55,4% dos votos, dispensando o segundo turno.

Karzai, que fez campanha ontem em Herat (oeste), foi representado no encontro pelo candidato a vice em sua chapa, o marechal Mohammed Qassim Fahim, ministro da Defesa no período da transição, que também lutou ao lado de Massud. “Muitos têm criticado a corrupção e outros problemas similares”, disse em seu discurso o deputado Abdul Sattar Khawasi. “Claro que este governo teve muitos problemas nesses sete anos, mas temos de compará-lo com os 200 anos de história do Afeganistão”, argumentou ele, lembrando que, antes de Karzai assumir, os afegãos, para fazer uma ligação internacional, tinham de ir até o Paquistão, e que o Programa Solidariedade Nacional está levando água potável para todos os vilarejos.

Os taleban ameaçam perturbar o dia da votação com 200 atentados suicidas. Nos últimos dias, o movimento atacou edifícios de governos provinciais e um comboio do ex-presidente Burhanuddin Rabbani. Uma bomba caseira colocada na beira de uma estrada matou na quinta-feira três militares das forças internacionais instaladas no Afeganistão. De acordo com a Comissão Eleitoral Independente, a votação não poderá ser realizada em 9 dos 365 distritos, a maioria no sul, onde o Taleban exerce mais influência.

Ahmed Wali Karzai, presidente do Conselho Provincial de Kandahar e irmão do presidente afegão, disse à agência France Presse que líderes comunitários negociam com os taleban uma trégua para a realização da votação, que elegerá também os integrantes dos conselhos provinciais de todo o país. Ahmed Wali negou, no entanto, que ele próprio tenha chegado a um acordo com os taleban, conforme noticiara o jornal inglês The Guardian.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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