Latinos não votam necessariamente nos democratas; a comunidade cubano-americana no Estado, que representa 7% da população, historicamente contribui para o voto republicano
Ao lançar sua cruzada para, digamos, devolver a América para os “americanos”, entendidos como os brancos que estão no país há várias gerações, Donald Trump parecia ter feito a aposta certa, do ponto de vista quantitativo: dos 225,8 milhões de americanos aptos a votar este ano, 69% são brancos; 12%, negros; outros 12%, hispânicos; e 4%, asiáticos. No entanto, a ferocidade com que colocou à mostra a sua “persona” acabou repelindo uma parcela desses brancos.
Desse delicado equilíbrio, entre a identificação e a repulsa, depende, em grande medida, o resultado da eleição. Mas não só dele. Com sua plataforma de exclusão dos mexicanos e demais imigrantes, Trump comprou uma briga com a parcela do eleitorado que mais cresce nos EUA. Entre as eleições de 2012 e as deste ano, o número de eleitores latinos cresceu em 17%, seguido de 16% entre os asiáticos, 6% entre os negros e 2% entre os brancos.
Latinos não votam necessariamente nos democratas. Aqui na Flórida, onde estou, a comunidade cubano-americana, que representa 7% da população, historicamente contribui para o voto republicano. Mas isso vem mudando. Uma nova geração de imigrantes econômicos cubanos, que mantêm laços com a ilha, prefere a abordagem de reaproximação dos democratas.
Mais importante ainda: esses novos eleitores latinos se registraram para votar para se defender das ameaças de Trump. Segundo o Censo de 2010, os cubanos representam 29% da população latina na Flórida, seguida de 20% de porto-riquenhos (que não são imigrantes), 15% de mexicanos, 3,5% de dominicanos e 2% de guatemaltecos – os três últimos afetados pela ideia do republicano de erguer um muro na fronteira com o México. Claro que ilegais não votam, mas entre o contingente de documentados e não documentados há parentes deles, além de uma solidariedade natural.
Os dados sobre o voto antecipado na Flórida mostram que esses latinos estão acorrendo maciçamente às urnas, ou enviando suas cédulas pelo correio, no caso dos eleitores de outros Estados. Até a segunda-feira, 507 mil hispânicos haviam votado de uma forma ou de outra. Isso representa 97% de todo o voto antecipado dos hispânicos em 2012. E ainda havia mais uma semana para eles votarem.
Mas não há más notícias apenas para Trump. Os negros, que ajudaram na apertada vitória de Obama sobre Mitt Romney na Flórida (50,01% a 49,13%), não demonstram o mesmo entusiasmo por Hillary. Até a semana passada, depois de cinco dias de voto antecipado no Estado, eles representavam 16% dos eleitores. Em 2012, nos primeiros dois dias de voto antecipado, os negros eram 25%.
Além do fato de Hillary ser branca, muitos negros se ressentem do fato de seu marido, quando presidente, ter aumentado a presença da polícia nas ruas e cortado gastos sociais, prejudicando suas comunidades, na visão deles.
Os jovens de 18 a 34 anos, que tendem a votar em Hillary, também estão menos mobilizados que em 2012. Há uma semana, eles tinham depositado 402 mil votos na Flórida – 52% do total de votos antecipados há quatro anos. Já os eleitores acima dos 65 anos compareceram em massa, somando 1,6 milhão de votos – 97% do voto antecipado em 2012. Essa faixa etária tende a votar em Trump.
Segundo analistas, Hillary até conseguiria vencer a eleição no colégio eleitoral sem os 29 votos da Flórida. Trump, não. Portanto, ganhar na Flórida seria a garantia de vitória, para Hillary. Sendo assim, o que poderá ser decisivo para a democrata – e para Trump – é se os novos eleitores latinos compensam a perda dos votos negros no Estado. Outro elemento de incerteza são os eleitores não filiados a partidos. Eles são 19% dos votos antecipados. Deles, 66% são brancos e 18%, latinos. Por quem, ou contra quem, eles se mobilizaram para votar? Ninguém sabe.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.