Discurso hostil de Chávez não interrompe intercâmbio comercial entre Venezuela e país vizinho
CARACAS
A crise entre a Venezuela e a Colômbia não deve afetar as relações comerciais entre os dois países. Foi o que disse ontem ao Estado o presidente da Câmara de Integração Econômica Venezuelano-Colombiana, Daniel Montealegre. “Entendemos que o presidente Hugo Chávez não quer mais contatos pessoais nem de governo com o presidente Álvaro Uribe, mas que continua igual o intercâmbio comercial”, disse Montealegre. “As alfândegas funcionam normalmente e estamos tranqüilos.”
Chávez declarou na quarta-feira que não teria mais relações com o governo da Colômbia enquanto Uribe fosse presidente, por causa da decisão do presidente colombiano de pôr fim ao seu papel de mediador para a libertação de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas não explicou o nível de ruptura das relações. Mais tarde, o chanceler venezuelano, Nicolas Maduro, foi ainda mais vago: “Chamamos de volta nosso embaixador em Bogotá e estamos em processo de análise das relações de maneira integral. O presidente decidirá a política e anunciará ao país.”
“O que Chávez fez ontem (quarta-feira), segundo entendemos, foi repetir o pronunciamento de domingo (no qual anunciou que colocava as relações no ‘congelador’)”, disse Montealegre. “É um rompimento das relações diplomáticas.” Apesar de se declarar “tranqüilo”, o presidente da Câmara acrescentou: “Nossa expectativa é que se solucione rápido a crise e baixe o nível de angústia e de tensão entre os investidores.” O mandato atual de Uribe termina em 2010 e o de Chávez, em 2012.
O jornal El Nacional, de Caracas, publicou ontem uma reportagem citando fontes do governo colombiano segundo as quais a expectativa em Bogotá é de que se agrave a crise. As fontes temem que o governo venezuelano tome medidas concretas, a partir da semana que vem, para restringir o comércio e os investimentos entre os dois países.
De acordo com as fontes, a Colômbia não participará do Banco do Sul, por ser iniciativa de Chávez. O banco deve ser fundado dia 9 em Buenos Aires, com a participação do Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai e Uruguai, além da Venezuela.
Em abril do ano passado, Chávez anunciou a saída da Venezuela da Comunidade Andina de Nações (CAN), por causa de acordos bilaterais firmados pela Colômbia e pelo Peru com os Estados Unidos. Mas a saída leva cinco anos para entrar em vigor, depois do anúncio, e Chávez vinha negociando o retorno à CAN.
El Nacional ouviu também fontes da chancelaria venezuelana, que disseram que não se trata de “rompimento de relações”, e sim de “distanciamento entre Chávez e Uribe”. Os dois confirmaram presença hoje em Quito, para a abertura da Assembléia Constituinte equatoriana.
A Colômbia é o segundo maior parceiro comercial da Venezuela, depois dos Estados Unidos. O intercâmbio total se aproxima de US$ 6 bilhões, dos quais mais de US$ 4 bilhões representam exportações da Colômbia para a Venezuela. A Colômbia exporta para o país vizinho autopeças, carne, frango, ovos, leite, confecções, calçados, papel, papel-cartão e material elétrico, e importa produtos petroquímicos e siderúrgicos.
Além disso, grandes grupos colombianos têm investimentos na Venezuela.