Que tal fazer turismo na Coreia do Norte?

Por Lourival Sant’Anna, de Pyongyang

O governo norte-coreano aposta no turismo para atrair moeda forte. As lojas estatais que atendem turistas aceitam yuans, dólares e euros. Os funcionários já sabem as taxas de conversão de cabeça e dão troco em moeda estrangeira. Vinte agências estatais fazem a recepção e os tours. A maior delas tem oitenta funcionários.

Norte-coreana vende flores para turistas chineses depositar em monumento da amizade entre os dois países
(Lourival Sant’Anna)

Sete hotéis recebem os estrangeiros em Pyongyang. O repórter de VEJA ficou no Yanggakdo (“Chifre de Carneiro”), o maior e mais “luxuoso” deles, que equivaleria a um três estrelas no Brasil. Lá o estudante americano Otto Warmbier, de 23 anos, foi acusado de “invadir” um andar reservado aos norte-coreanos e “roubar” um cartaz de propaganda do partido, em janeiro de 2016. Condenado a 15 anos de prisão e trabalhos forçados, ele foi torturado até entrar em coma e repatriado em junho de 2017 para os Estados Unidos, onde morreu em seguida.

A história não é um grande incentivo ao turismo, mas o governo estabeleceu a meta de aumentar de 20.000 para 1 milhão o número de visitantes estrangeiros por ano. Para isso, está terminando a construção de um arranha-céus de aço e vidro, com 105 andares, que será o Hotel Ryugyong (“Salgueiro”). 

Dos atuais turistas, 90% são chineses. Os restantes são na maioria alemães, franceses, australianos e japoneses. O repórter de VEJA foi o primeiro brasileiro que as guias conheceram. 

O regime tenta equilibrar a necessidade de atrair essa preciosa moeda forte com a de evitar que os estrangeiros tragam e levem informações “perniciosas”. Ao comprar os pacotes, os turistas são avisados de que não podem levar teleobjetivas (lentes fotográficas de aproximação), publicações, símbolos americanos e qualquer conteúdo que possa ser considerado ameaçador. 

É proibido fazer imagens de militares e desaconselhável fotografar pessoas de perto. Os motoristas dos ônibus se recusam a parar durante os percursos do hotel aos pontos turísticos. Pedidos para caminhar nas ruas, mesmo trajetos curtos com os guias, são recebidos com suspeição. Árvores grandes foram plantadas na beira das estradas, para evitar o registro de cenas como as descritas no início desta reportagem.

Na saída do país, os policiais verificam as imagens nas câmeras, computadores, cartões de memória, pen drives e discos rígidos. O que lhes parecer impróprio é apagado. A inspeção é mais rigorosa no aeroporto. Na estação de trem de Sinuiji, na fronteira com a China, o foco maior é nas mercadorias. Fica a dica.

Publicado na revista VEJA. Copyright: Grupo Abril. Todos os direitos reservados.

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