Bomba foi encontrada em Caracas. Governo de Hugo Chávez diz que o objetivo era sabotar as eleições legislativas de amanhã
CARACAS
O vice-ministro da Segurança e da Cidadania, Jesús Villegas, acusou ontem a oposição de envolvimento numa tentativa de atentado a bomba em Caracas. O explosivo, encontrado numa ponte de acesso à Universidade Central da Venezuela, estava embalado num papel com a inscrição “fora CNE”, sigla do Conselho Nacional Eleitoral, responsável pela realização das eleições de amanhã para a Assembléia Nacional.
“Provavelmente isso vem das mesmas pessoas que estão tentando sabotar o direito legítimo dos cidadãos de votar”, especulou Villegas. Quatro dos principais partidos de oposição decidiram nos últimos dias boicotar as eleições, alegando que o sistema de votação eletrônica está sujeito a fraudes.
As forças de segurança, que já estão mobilizadas para a realização das eleições, anunciaram a detenção de 11 pessoas em Maracaibo, capital do Estado de Zulia, no noroeste do país, com 62 coquetéis molotov, explosivos proibidos, galões de gasolina e fitas com emblemas falsos das Forças Armadas. Não há informação sobre se os detidos pertencem a algum grupo político.
Apesar desses incidentes, o ministro da Defesa, almirante Orlando Maniglia, assegurou que a situação no país é de “absoluta calma”, e que a ordem estará garantida para a realização das eleições. Os 120 mil militares do efetivo e da reserva foram mobilizados, e manterão a segurança das 9.155 seções eleitorais em todo o país, de acordo com o ministro.
Maniglia desmentiu rumores de que haveria movimentações golpistas nos quartéis, fomentados pelo próprio presidente Hugo Chávez, que disse, na noite de quinta-feira, que tinha informes de inteligência sobre oposicionistas e empresários dos meios de comunicação que estavam telefonando para unidades militares e incitando oficiais a promover um golpe de Estado. Maniglia confirmou os telefonemas, mas descartou a possibilidade de golpe: “Não tem nada a ver.”
O deputado William Lara, diretor de Organização do Movimento Quinta República (MVR), do governo, acusou o grupo Súmate de estar se preparando para sabotar a votação. Segundo Lara, o Súmate, um movimento pró-cidadania apartidário, estaria convocando seus ativistas para invadir os locais de apuração de votos e roubar os comprovantes de votação, fazendo com que a contagem manual não coincida com a eletrônica.
As urnas eletrônicas importadas dos Estados Unidos imprimem comprovantes, 45% dos quais o CNE contará manualmente, gerando uma amostra para comparar com o resultado das urnas eletrônicas.
O Súmate convocou os cidadãos a comparecer a igrejas e templos – já que as aglomerações estarão proibidas noutros locais – por volta do meio-dia de domingo, para protestar contra a suposta fraude nas eleições.
Em termos numéricos, a saída dos principais partidos de oposição é pouco expressiva. O presidente do CNE, Jorge Rodríguez, informou ontem que 322 candidatos desistiram formalmente de participar das eleições, de um total de 5.513. Segundo as pesquisas, a oposição tinha chances de eleger no máximo 17 deputados, de um total de 167.
A oposição afirma que as máquinas americanas, fabricadas pela Smartmatic, guardam na memória a ordem de votação, possibilitando a violação do sigilo. Além disso, segundo os oposicionistas, seria possível fraudar os resultados. O CNE nega categoricamente. De acordo com o órgão, o sistema é inviolável, a ordem dos votos é embaralhada na sua memória, e é possível, em caso de dúvidas, auditar 100% da contagem, graças aos comprovantes impressos de votação.
Os observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos e da União Européia têm manifestado confiança no sistema venezuelano. “Creio que os esforços feitos na Venezuela superam o que tem sido feito noutros países”, disse ontem o observador espanhol Asier Martínez. “As garantias são mais que suficientes.”
Para o uruguaio Wilfredo Penco, não cabe aos observadores internacionais entrar na polêmica sobre se a oposição deve ou não boicotar as eleições. “Mas, do ponto de vista institucional, apoiamos totalmente o processo eleitoral venezuelano, temos plena confiança nos procedimentos.” Penco lamentou que os oposicionistas e representantes de meios de comunicação privados não tenham aceitado o convite para participar de uma reunião para discutir o processo eleitoral.
Já o observador equatoriano Nicanor Moscoso atestou que “não havia nenhuma possibilidade de comunicação” entre o mecanismo de reconhecimento das digitais do eleitor e a máquina de votação. Essa foi uma das alegações da oposição. O CNE atendeu à exigência de eliminar a ligação entre o leitor das digitais e as máquinas, e mesmo assim a oposição se retirou das eleições.