Batlle vence eleição presidencial no Uruguai

Boca-de-urna indica 7 pontos de diferença entre o colorado e o esquerdista Tabaré

 

MONTEVIDÉU – O candidato Jorge Batlle, do Partido Colorado, venceu ontem o segundo turno da eleição presidencial uruguaia de acordo com a boca-de-urna do Instituto Cifra e com projeções a partir da contagem inicial dos votos. Segundo as estimativas do diretor do instituto, Luis Eduardo González, que foi o que chegou mais perto do resultado oficial no 1.º turno, Batlle obteve 52% dos votos válidos. Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, ficou com 45%.

A diferença é de apenas cerca de 160 mil votos e a margem de erro da estimativa é de um ponto porcentual acima ou baixo. Já de acordo com projeções do Canal 10, Batlle recebeu 51% dos votos e Tabaré, 43,5%. O resultado oficial só deve sair hoje.

Logo depois de anunciadas as primeiras projeções, por volta de 21 horas (22 horas em Brasília), os colorados saíram às ruas em todo o país para festejar. Na sede do partido, em Montevidéu, eles gritavam: “Já o vêem, somos governo outra vez.”

No primeiro turno, dia 31 de outubro, Tabaré obteve 39,06% dos votos; Batlle, 31,96% e o candidato blanco, o ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), 21,92%. As pesquisas indicavam empate técnico, mas a tendência de crescimento já favorecia Batlle, que, em duas semanas, subiu até cinco pontos porcentuais.

Com isso, o clima era de mais confiança entre os colorados que entre os militantes da Frente Ampla. Integrantes do círculo íntimo de Tabaré chegaram a segredar que se preparavam para liderar a oposição. “Amanhã (hoje), tudo continuará igual, não vai acontecer nada”, disse Tabaré, depois de votar – aparentemente traindo certo pessimismo íntimo quanto às próprias chances de vitória.

O candidato socialista, um médico de 59 anos, ex-prefeito de Montevidéu (1990-94), fez um apelo “pela paz e a cordialidade”. Tabaré votou às 8h30 no Hospital das Clínicas da prefeitura, no bairro popular de Belvedere. Foi recebido por centenas de partidários fervorosos, que o esperavam à porta da seção eleitoral, aos gritos de “e já se vê o presidente Tabaré”. Num momento de maior efusão, a multidão entoou, na melodia da marchinha de carnaval brasileira, “ô-lê-lê, ô-lá-lá, se isso não é o povo, o povo onde está?”.

Uma das mais entusiasmadas era a vendedora ambulante Ana María Sosa, que, até essa eleição, votava nos colorados. “Estamos trabalhando graças ao prefeito Mariano Arana (da Frente Ampla)”, explicou ela. “Os colorados disseram que iam tirar-nos das calçadas.” Já Olga Quijano, de 66 anos, vota na Frente Ampla desde sua fundação, em 1971. “Estamos na miséria por culpa dos colorados e blancos”, disse, referindo-se aos grupos que se alternam no poder há mais de um século e meio.

Não muito longe dali, ao meio-dia, o senador Batlle, advogado de 72 anos, chegava para votar, num colégio. O candidato não disse uma palavra às dezenas de jornalistas que tentavam ouvi-lo. Um grupo de simpatizantes, menos numeroso, mas não menos entusiástico, aguardava-o.

“Batlle é muito inteligente, enquanto Tabaré é um bom médico, mas não sabe nada de política e foi mau prefeito”, disse Angela, de 69 anos, que não quis dar o sobrenome, por “medo”, segundo ela, de represálias dos militantes da Frente Ampla. “Eles se embriagam, se drogam, não podem ver uma bandeira colorada que atiram pedras, são muito agressivos, são terríveis”, foi enumerando Angela, sob gestos de aprovação das amigas.

Enrolado numa bandeira colorada, Pedro Koyounian, de 52 anos, dirigente da Agrupação Nacional de Médicos Colorados, disse que apóia o partido por sua “coerência programática”. “A esquerda não tem experiência.” Koyounian, de família armênia, disse que não entende “como alguém pode votar em comunistas”, lembrando o período em que a Armênia esteve sob o domínio da União Soviética.

O comparecimento dos 2,4 milhões de eleitores às urnas deve ultrapassar os 90%, como é tradição no Uruguai, altamente politizado. O índice de votos brancos e nulos deve ficar bastante baixo. Ontem, era comum ver velhinhos de mais de 90 anos, caminhando com dificuldade para suas seções eleitorais. Os uruguaios gostam de votar e de decidir.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*