Não venha’, gritavam os manifestantes em Istambul, às vésperas do início da visita de Bento XVI ao país
ANCARA – Na maior manifestação contra o papa na Turquia desde que ele citou, em setembro, um imperador bizantino criticando o profeta Maomé, mais de 20 mil pessoas se reuniram ontem em Istambul para protestar contra sua visita, que começa amanhã em Ancara. “Papa, não venha”, gritavam os manifestantes, que a cada palavra de ordem dos oradores respondiam “Alla-u-Akbar” (Deus é grande). Muitos agitavam bandeiras da Turquia.
A manifestação foi convocada pelo Partido da Felicidade, agremiação islâmica que não alcançou a votação mínima de 10% para ter representação no Parlamento, nas últimas eleições, em 2002. Uma das faixas empunhadas pelos manifestantes dizia: “Contra a aliança dos cruzados”. O papa se encontrará com o patriarca Bartolomeu I, primaz ecumênico dos cristãos ortodoxos, com líderes dos ortodoxos armênios e sírios e com o grão-rabino da Turquia.
Quatro mil policiais observavam os manifestantes e helicópteros sobrevoavam a área, numa amostra do aparato mobilizado para a visita de quatro dias. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, um líder islâmico moderado, anunciou que, durante a visita, estaria na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), amanhã e quarta-feira, em Riga (Letônia). O papa fica na Turquia até sexta-feira. O governo turco estuda a possibilidade de “dar um jeito” (ver entrevista com deputado).
Durante seu sermão do meio-dia, ontem, o papa procurou apaziguar os ânimos: “Quero mandar uma saudação cordial ao querido povo turco, rico em história e cultura. A essas pessoas e seus representantes, expresso sentimentos de estima e sincera amizade.” Em “sinal de respeito pelos muçulmanos”, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, anunciou ontem a inclusão de última hora no programa do papa de uma visita à Mesquita Azul, a maior de Istambul.
Lombardi também explicou a posição do Vaticano sobre a candidatura da Turquia à União Européia. Segundo ele, se o país preencher os critérios para seu ingresso, a Santa Sé não se oporá. Em 2004, o atual papa, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, opôs-se: “A Turquia sempre representou um continente diferente, em permanente contraste com a Europa.”
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