DURBAN, África do Sul – Em mais de um sentido, os portugueses jogam hoje em casa. Durban foi avistada pela primeira vez pelo explorador português Vasco da Gama, quando fazia a circunavegação em direção à Índia, no dia 25 de dezembro de 1497. Por isso, chamou-a de Natal. Mas o lugar só foi efetivamente ocupado pelos europeus em 1824, quando colonos ingleses a batizaram de Durban, sobrenome do então governador da Colônia do Cabo. Hoje é o maior porto da África do Sul e a maior cidade da costa leste do continente, com 3,5 milhões de habitantes, avenidas amplas e espaços abertos, que a tornam um lugar agradável e rápido de transitar.
Depois do fim do apartheid, ela ganhou o nome Ethekwini – “baía”, em zulu, e “ponto de encontro”, em cossa, as duas línguas majoritárias dos negros sul-africanos. Cada nome de Durban representa uma camada de sua história e de sua extraordinária diversidade. Os ingleses trouxeram os indianos para trabalhar nos engenhos de açúcar – aos quais os zulus não se adaptaram – e, com eles, o hinduísmo e o islamismo. Os portugueses vieram para a África do Sul a partir da década de 1850.
Chegaram a 1 milhão em todo o país. Hoje são cerca de 500 mil. Eles se concentram em Johannesburgo e na Cidade do Cabo. Na província de Kwazulu-Natal, da qual Durban é a capital, há cerca de 12 mil, calcula a cônsul de Portugal na cidade, Maria do Carmo Ferreira.
Na noite de ontem, 60 deles se reuniram no salão da Igreja Portuguesa de São José para celebrar o dia de São João, mas o assunto principal era o jogo de hoje. “Força para Portugal”, gritaram, agitando bandeiras e alguns usando o uniforme verde e vinho, antes de cantar o hino nacional. A festa teve lula e atum, ambos em um molho de tomate com batatas cozidas. O vinho era sul-africano.
“Que seja um bom jogo, que Portugal vença de 2 a 1 ou que seja empate”, desejou Elias de Sousa, que assumirá o cargo de cônsul honorário em 1º de agosto, quando o consulado diplomático será desativado, como parte de cortes de gastos pelo governo português. Como muitos portugueses de Durban, Sousa vai hoje ao Estádio Moses Mabhida. “O mais importante é que os dois times se classifiquem”, disse Sousa ao repórter brasileiro, já exercitando seus dons diplomáticos.
Na verdade, os portugueses em Durban estão acostumados a torcer para o Brasil – quando não joga contra Portugal, claro. E não só os portugueses. Mesmo antes da eliminação de sua seleção, muitos sul-africanos levavam nos carros a bandeira do Brasil ao lado da África do Sul. E reclamam da não-vinda de Ronaldinho Gaúcho com a autoridade de torcedores.
No salão paroquial ontem à noite, ao lado das bandeiras portuguesa e sul-africana havia uma do Brasil, colocada pelo pároco José Alton, de 34 anos, que é de São Paulo. “Procuro sempre transmitir que são dois países irmãos”, disse Alton, cuja ordem, a Sociedade Missionária São Patrício, da Irlanda, enviou-o para a África do Sul há cinco anos. “Espero que a partida tenha esse espírito de irmandade.” Há poucos brasileiros morando em Durban. O padre conhece uma família e mais alguns jovens casados com sul-africanos. Mas um consulado itinerante do Brasil em Durban, montado para assistir aos brasileiros no período da Copa, estima que 10 mil tenham vindo ver a partida. O Brasil também está em casa. Em Durban, qualquer um pode estar.