Dividido, Partido Baath enfrenta mais renúncias

Os sinais de divisão nas Forças Armadas e no Partido Baath, que governa a Síria desde 1963, tornaram-se ainda mais evidentes ontem.

BEIRUTE – Mais de 200 integrantes do Baath, que sempre se mostrou coeso, renunciaram ontem em Deraa, epicentro da revolta, no sul do país. Um vídeo feito com um celular distribuído para as emissoras de TV mostrava ontem soldados sírios feridos caídos no chão, Segundo testemunhas, eles teriam sido alvejados em Deraa pelos próprios companheiros, por se recusarem a disparar contra a população.

Dois moradores em Deraa disseram à Associated Press que pelo menos cinco oficiais do Exército passaram para o lado dos manifestantes, enquanto que soldados recrutados pelo serviço militar obrigatório estariam recusando ordens de deter civis nos postos de controle, permitindo que as pessoas passem para ir buscar alimentos. Há relatos ainda de confrontos entre tropas das forças regulares, que não acatam as ordens de repressão, e unidades de elite sob o comando do irmão do ditador Bashar Assad, Maher. O governo e o Exército negam que haja divisões.

Na quarta-feira, 30 integrantes do Baath já haviam renunciado em Baniyas, cidade costeira no oeste do país. Nos dois casos, os dissidentes denunciaram em cartas o uso da força contra civis.

A cada dia os protestos e a violenta repressão se espalham pelo país. Testemunhas citadas pela Associated Press afirmaram que seis tanques entraram em Latakia, reduto de Assad no norte do país. As forças de segurança abriram fogo e pelo menos quatro manifestantes ficaram feridos. De acordo com ativistas de direitos humanos, mais de 450 pessoas morreram desde o início dos confrontos, no dia 18 de março; dessas, 120 no último fim de semana. Para hoje é esperada a intensificação dos confrontos, com os manifestantes planejando um “dia de fúria” depois da saída das orações de sexta-feira, o dia de descanso semanal muçulmano.

O Conselho de Segurança não consegue chegar a um acordo sobre medidas contra o regime sírio. Num ato sem conseqüências práticas, mas de grande valor simbólico, o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha retirou o convite para o embaixador da Síria em Londres, Sami Khiyami, assistir ao casamento do príncipe William. O Foreign Office considerou que sua presença seria “inaceitável”, e acrescentou que o Palácio de Buckingham “compartilha dessa visão”.

A decisão parece ter pegado o embaixador de surpresa. “Achei um pouco constrangedor, mas não a considero uma questão que vá prejudicar as relações e as discussões com o governo britânico”, declarou ele. “Na realidade não entendo (a decisão), mas entendo a influência da mídia nas decisões do governo.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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