Enquanto outras crianças iam brincar, Calderón ajudava nas campanhas do pai, um dos fundadores do PAN
CIDADE DO MÉXICO – Em seu livro O Filho Desobediente, escrito durante a campanha, Felipe Calderón faz um exercício de imaginação sobre como seria a noite de 2 de julho, data da eleição presidencial: “Já transcorreu a jornada eleitoral; ao longo do dia, tive conhecimento de como vão as coisas e sei que ganhei. Mas a pergunta fundamental é se tenho ou não maioria no Congresso.”
Calderón não podia ter errado mais em seu prognóstico. Mal sabia ele que teria maioria folgada no Congresso – e seu problema estaria na primeira parte. A contagem dos votos seria uma montanha russa, culminando numa vantagem de apenas 0,56% sobre seu principal adversário, Andrés Manuel López Obrador, que rejeitaria o resultado e passaria a infernizar a sua vida e a do presidente Vicente Fox, seu companheiro no Partido Ação Nacional (PAN).
Entretanto, Calderón, aos 44 anos um dos mais jovens presidentes da história do México, não tem errado sempre nas suas previsões. Aos 12 anos, quando sua professora de história perguntou aos alunos o que queriam ser, ele respondeu: “Vou ser presidente do México.” Podia soar bizarro para os seus colegas, mas era natural para Felipe, que, desde pequeno, enquanto as outras crianças iam brincar, ia ajudar nas campanhas de seu pai, Luis Calderón Vega, um “eterno candidato” do PAN, que ajudou a fundar, em 1939.
Não era exatamente um passeio. Depois de fazer o grude, ele e os irmãos saíam às 2 da madrugada para colar os cartazes. “Tinha de ser ao amparo da escuridão, senão poderíamos ter problemas”, recorda Calderón. “O PRI (Partido Revolucionário Institucional) tinha controle total do poder, e seus membros podiam ficar muito violentos.” Seu pai, escritor, militante liberal e católico, não parava no emprego, por causa de sua atuação política. Nascido em Morelia, no oeste do país, Calderón fez direito e mestrados em economia e em administração pública (em Harvard). Foi deputado federal, presidiu o PAN e o Banobras – um banco de fomento, no qual foi acusado de desviar recursos – e foi secretário de Energia.
O título do livro, O Filho Desobediente, é inspirado numa canção de seu Estado de Michoacán, que significa “lugar de pescadores” no idioma náhuatl. Nas últimas semanas o que Calderón tem mais precisado é justamente de uma paciência de pescador.
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