Escola em Trípoli transformada em base recebe membros das Lejan Thawria, conselhos revolucionários de Kadafi
TRÍPOLI – Passa de meia-noite em Trípoli, e há um entra-e-sai nervoso na escola secundária no centro da capital convertida em base da Katiba Tarabulus, a Brigada de Trípoli. Esse é o quartel-general dos 500 homens que treinaram durante meses nas Montanhas de Nafusa antes de avançar para a ofensiva final que levou à tomada de Trípoli. São originários de Trípoli, mas muitos vieram do exílio noutros países, numa espécie de “legião estrangeira” líbia.
Uma caminhonete encosta no portão. Duas mulheres com as mãos atadas para trás, os cabelos descobertos e as cabeças abaixadas estão de pé na carroceria. Os combatentes as ajudam a descer, silenciosamente. São integrantes dos Lejan Thawria, os conselhos revolucionários que apoiam Muamar Kadafi. Foram presas no bairro de Abu Salim, último grande reduto ainda nas mãos das forças leais a Kadafi, ocupado ontem pelos rebeldes.
Além das duas mulheres, vários outros prisioneiros foram trazidos a partir do fim da tarde. “Eles serão interrogados, julgados e, se for o caso, executados”, explicou com simplicidade um combatente que guardava o portão da base. Os Lejan Thawria são um braço odiado do regime de Kadafi, que empregava pessoas aparentemente comuns para espionar a movimentação política, bairro a bairro.
Os rebeldes tomaram ontem o controle da prisão de Abu Salim, para onde Kadafi enviava seus inimigos, e afirmam ter libertado 15 mil prisioneiros políticos. Na prisão havia também presos comuns, que, segundo os rebeldes, participaram da resistência das forças leais a Kadafi – uma alegação difícil de averiguar.
A noite avança em Trípoli, e intensificam-se as explosões e tiroteios na cidade, cujo som se confunde com os disparos de celebração. Os líbios usam seus fuzis e até mesmo peças de artilharia como fogos de artifício, num ritual infernal destinado a intimidar e ao mesmo tempo a manter o moral alto. Mas uma parte dos disparos ontem foram confrontos em focos de resistência leais a Kadafi, como ao redor do Hotel Corinthian, para onde foram transferidos os 35 jornalistas estrangeiros credenciados pelo regime, que os havia instalado no Hotel Rixos.
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