Rebeldes queixam-se de pouco apoio do Ocidente

Ahmed Bijou aponta para os buracos feitos por fragmentos de foguetes Grad em sua caminhonete, que traz na carroceria uma bateria de 12 foguetes de 107 milímetros.

BREGA, Líbia – “Não vi ataques aéreos”, reclama Bijou, de 32 anos, funcionário da companhia de água de Benghazi tornado combatente. Ele lutava entre os vilarejos de Bsheir e Al-Gayla, quando teve de recuar, diante dos foguetes das forças de Muamar Kadafi. “Acho que os franceses estão jogando conosco, como se fôssemos brinquedos deles”, exasperou-se Bijou, referindo-se aos participantes da coalizão mais famosos, por terem lançado o bombardeio que salvou Benghazi, dia 19. 

“Talvez eles não tenham atacado porque os revolucionários estavam perto demais (das forças de Kadafi)”, ameniza Marai Lawil, de 34 anos, funcionário da refinaria de Brega, que acompanha Bijou na caminhonete. A bateria – nesse momento já esvaziada – de foguetes de Bijou e Lawil era o armamento mais pesado que os rebeldes utilizavam ontem. Mais comuns eram as peças de artilharia antitanque de 14,5 milímetros, como as que tinham soldados regulares que bateram em retirada de Brega ao lado do Estado. “Precisamos de armas pesadas”, reclamaram os soldados, de um quartel em Benghazi. À pergunta sobre que armas queriam, responderam: “As mesmas que as kataeb têm – foguetes Grad.”

Desde o início da guerra civil, há 40 dias, as lideranças civis e militares dos “revolucionários” têm feito dois pedidos à comunidade internacional: a zona de exclusão aérea, implementada a partir do dia 19, e armamentos. Visivelmente, os bombardeios da coalizão não são suficientes para os rebeldes manterem os territórios que ocupam – e muito menos para avançar em direção a Trípoli, 1.050 km a oeste de Benghazi. Há informações de que as primeiras armas estão chegando, via Egito. Mas tudo indica que é apenas o início de uma longa guerra civil, a menos que algo aconteça a Kadafi.

O coronel aviador Ahmed Omar Bani, porta-voz das Forças Armadas rebeldes, disse ontem que as kataeb contam com 3.200 a 3.600 soldados do Chade, comandados por Issa Bahar, vice-diretor Nacional de Segurança e primo do presidente do país, Idris Debi. Bani não revela o efetivo das forças rebeldes, mas certamente não alcança esse número no campo de batalha.

Centenas de famílias deixaram ontem Ajdabiya em direção a Benghazi, temendo mais uma vez o avanço das forças de Kadafi sobre a cidade, recuperada pelos rebeldes há apenas quatro dias.

“Tenho de ir por causa das crianças”, disse Hafez Mansour, um mestre de obra de 37 anos, com cinco filhos e a mulher no carro. “Fiquei só dois dias em Ajdabiya.” À pergunta sobre como se sentia em relação à situação, Mansour respondeu: “Quem decide é Alá.” Ajdabiya, de 150 mil habitantes, estava deserta. Na entrada de Benghazi, um rapaz segurava um cartaz: “Ofereço minha casa a quem precisar.” Esse tipo de solidariedade tem sido comum no leste da Líbia – e poderá ser necessária por um bom tempo.

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