EUA resgatam pilotos de F-15 na Líbia

Caça americano cai de madrugada durante missão perto da cidade de Benghazi; apenas um dos dois militares a bordo ficou ferido

BENGHAZI – Um comboio de veículos militares das forças leais ao ditador Muamar Kadafi estava a 35 km de Benghazi, a “capital” dos rebeldes, às 2 horas da madrugada de ontem, quando foi bombardeado por um caça-bombardeiro americano. A informação, confirmada pelo vice-presidente do Conselho Provisório Líbio, Abdul-Hafiz Ghoga, mostra o quanto ainda falta para as forças aliadas neutralizarem a capacidade militar do regime líbio.

Ghoga não soube dar detalhes sobre a extensão do comboio nem o tipo de veículos e armamentos que continha. Segundo ele, o comboio situava-se perto da cidade de Soluk, cerca de 40 km ao sul de Benghazi, numa estrada que corta o deserto. Ele também não informou de onde o comboio vinha. Mas a estrada liga-se a Ajdabiya, cidade 160 km a oeste de Benghazi ainda com forte presença das tropas de Kadafi. “As forças aliadas estão ao longo de toda a costa e seu sistema de reconhecimento detecta todos os movimentos”, explicou o líder rebelde, à pergunta sobre como o comboio havia sido detectado. A rede de TV Al-Jazeera informou que caças ocidentais atacaram ontem um avião da Força Aérea leal ao regime que voava em direção a Benghazi.

Ghoga informou que um caça F-15 da Força Aérea americana caiu, “por falha mecânica”, às 3 horas da madrugada, perto do povoado de Bu Mariem, 30 km a leste de Benghazi. Os dois tripulantes foram resgatados por militares rebeldes baseados no aeroporto da cidade, com ajuda de iluminação proporcionada pela Força Aérea americana. Apenas um deles tinha um ferimento leve na perna. Ambos foram levados para o Hotel Al-Fadeel, em Benghazi, examinados por um médico e levados embora pela Força Aérea americana.

A situação era bem mais tranquila ontem em Benghazi do que nos dias anteriores. Aparentemente os combatentes rebeldes estão conseguindo neutralizar as milícias pró-Kadafi instaladas na cidade. Mas ainda há confrontos esporádicos.

Pela terceira noite consecutiva, as forças aliadas bombardearam alvos militares em Trípoli e em outros pontos do país. O vice-presidente do Conselho rebelde desmentiu as versões do governo, segundo as quais os bombardeios teriam matado civis. “Os ataques dos aliados são muito precisos”, elogiou Ghoga, advogado especializado em direitos humanos. “As imagens mostradas pela TV estatal são de baixas de civis causadas pelo ataque das forças de Kadafi contra Benghazi, no sábado.”

Há rumores insistentes de que um dos filhos de Kadafi teria sido morto no bombardeio de Bab al-Azizia, seu quartel-general em Trípoli. Uma versão fala em Khamis, o comandante da principal brigada de elite do regime; outra em Saadi, ex-jogador de futebol e comandante das forças especiais. Há rumores também de que o ditador já não estaria em Trípoli, mas em Sabha, cidade do deserto em que conta com forte apoio, a caminho do exílio no Chade ou Níger, aliados de seu regime. Essa versão é reforçada pelo fato de que as últimas declarações de Kadafi foram feitas pelo rádio.

Segundo Ghoga, o número de mortos na ofensiva de Kadafi contra Benghazi no sábado subiu para 120, e o de feridos, para 250, “além da demolição de casas e de lojas”. O líder rebelde mostrou uma máscara antigás que teria sido encontrada na cabine do avião derrubado no sábado, segundo ele indício de que Kadafi pretenderia usar armas químicas. O piloto do avião desertou e ia atacar o comboio que se dirigia à cidade quando seu avião foi derrubado. Ghoga desmentiu que a artilharia antiaérea o tenha derrubado, como foi noticiado no sábado. Segundo ele, foram as baterias do regime.

O líder rebelde afirmou que as forças de Kadafi já não estão dentro de Ajdabiya, mas apenas nas saídas leste e oeste. Ele disse que combatentes rebeldes avançaram ontem na estrada que liga Ajdabiya ao complexo petrolífero de Brega, 70 km a oeste. “Com isso, as tropas de Kadafi estão cercadas dos dois lados”, explicou, referindo-se à presença dos combatentes também no flanco leste, no lado de Benghazi.

Ghoga denunciou “massacres” em Misrata e Zintan, duas cidades disputadas entre oposição e regime, na região oeste do país. Ele disse que em Misrata, a terceira cidade do país, com 450 mil habitantes, 40 pessoas foram mortas de segunda-feira para ontem e 180, feridas. Mustafa Gheriani, porta-voz do Conselho, disse ao Estado que Kadafi está conduzindo um “genocídio” em Zintan contra a etnia mazir. A cidade de 50 mil pessoas está cercada por 150 veículos militares, acrescentou Imam Bugaighis, outra porta-voz do Conselho.

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