Fim da conversibilidade abriria nova porta entre Brasil e Argentina
BUENOS AIRES — O argentino Raúl Oscar Franchi, dono da agência de viagens Cordimar, vive de vender aos seus compatriotas pacotes de férias no Brasil. Uma tarefa ingrata, ultimamente. Só de quarta para sexta-feira, foram cancelados 20 vôos charter – uma queda de 50%. Ainda há muitas poltronas nos vôos regulares para o final de janeiro, o que não costuma acontecer no pico da temporada.
Os argentinos não viajam por uma razão simples: seu dinheiro ficou preso no “curralzinho”, o bucólico nome dado ao limite de saques. Em tese, a situação deve piorar com a desvalorização do peso, que tornará o Brasil e outras partes do mundo menos baratos para os argentinos. Mas Franchi não está de todo desesperançoso. Ele acha que o fim da conversibilidade pode abrir uma porta entre os dois países.
Depende de duas coisas: a nova cesta de moedas criar a opção de usar o real e o euro, além do dólar, nas transações externas; e os operadores brasileiros aceitarem pagamentos em reais, abrindo mão do ganho da conversão cambial. Haveria, dentro da Argentina, uma taxa de câmbio direta do peso para o real e as viagens para o Brasil ficariam mais baratas.
“Muitos argentinos se habituaram a viajar para o exterior e não vão abandonar esse costume”, acredita Franchi. “Em outubro e novembro, depois dos atentados de 11 de setembro, vendemos muito bem para o Brasil, porque muita gente deixou de ir para os Estados Unidos e buscou uma alternativa.”
Com a derrubada das torres gêmeas da paridade entre o dólar e o peso, muitos argentinos poderiam reencontrar uma alternativa no Brasil e no seu real desvalorizado. Afinal, argumenta Franchi, uma desvalorização de 40% do peso colocará a moeda argentina num patamar próximo ao que o real estava em 2000.
O ingresso de reais na Argentina seria impulsionado pela reativação das importações de produtos argentinos pelo Brasil, que poderia pagá-los diretamente em reais, e pela retomada dos investimentos brasileiros na Argentina, também em reais.
Segundo Elói de Almeida, presidente do Grupo Brasil, que reúne 190 empresas brasileiras com negócios na Argentina, tudo dependerá das novas regras do regime cambial argentino. Se a cesta de moedas se concretizar, em termos físicos, a palavra “conversibilidade” ganhará um novo significado na Argentina.