A meta de déficit fiscal pode ser afrouxada, mas não ampliada, diz representante do Fundo
SANTIAGO – O Fundo Monetário Internacional (FMI) não descarta a possibilidade de afrouxar a meta de déficit fiscal de US$ 6,5 bilhões, acertada com a Argentina para este ano. Mas as chances de um novo pacote de ajuda parecem remotas. “Um pacote da envergadura como o que foi feito para a Argentina não se faz todos os anos”, disse o diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI, o argentino Claudio Loser.
Em Santiago, durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Loser respondeu com um “ni” – mistura de sim e de não em espanhol – à pergunta sobre se o Fundo aceitaria uma ampliação do déficit. “A flexibilização da meta para este trimestre é aceita”, ponderou. “Com o que sabemos hoje, com o esforço que anunciou (o novo ministro da Economia, Domingo) Cavallo, pode-se alcançar a meta do ano, o que seria o razoável. Caso contrário, o país terá problemas.”
O próximo desembolso do pacote de quase US$ 40 bilhões de ajuda à Argentina será de US$ 1,3 bilhão, em maio. Loser disse que o corte de US$ 2 bilhões nos gastos públicos anunciado por Murphy na sexta-feira já era suficiente para que a Argentina cumprisse a meta anual. Cavallo falou ontem em corte de US$ 3 bilhões.
Loser não se opõe, em princípio, a uma possível redução dos impostos. “Segundo a teoria econômica, essa redução poderia impulsionar o crescimento”, admitiu o diretor do FMI. “Tudo depende do impacto que isso terá sobre o déficit fiscal, mas não temos uma receita que diz que aumentar os impostos é a solução. Acreditamos num Estado pequeno, com menos gastos e menos impostos. Não temos uma visão ideológica sobre isso.”
Os jornalistas argentinos perguntaram quais as chances de Cavallo se tentasse repetir setembro de 94, quando se retirou do programa do FMI e buscou recursos diretamente com os países ricos. “O México disse o mesmo, mas logo voltou”, respondeu Loser. “Tanto Cavallo quanto o governo argentino têm claro que o FMI não é separável da comunidade financeira internacional”, declarou Loser. “Não vamos obrigar os países a negociar conosco, mas seria muito difícil que a comunidade política e financeira aceitasse negociações que não incluíssem o FMI.”
Quando lhe perguntaram se ele acreditava que Cavallo seria “a solução”, foi irônico. “Nenhum indivíduo nos últimos 2 mil anos foi a solução milagrosa para qualquer entidade”, recordou. “Nem nos 2 mil que O precederam, nem a.C. nem d.C.”, acrescentou, brincando com a inicial de Cavallo, a mesma de Cristo.
O ministro do Planejamento, Martus Tavares, assumiu um tom tranqüilizador. “A declaração de Cavallo de que manterá o regime de convertibilidade, está absolutamente dentro do esperado”, comentou.
“O importante é que Cavallo agrega do ponto de vista político e é um reforço do ponto de vista da credibilidade externa. Está sendo jogada a última carta”, sentenciou o o presidente do Banco Hipotecário e ex-secretário das Finanças da Argentina, Miguel Sebastián Kigel. “López Murphy era a última carta ortodoxa ortodoxa”, qualificou. “Cavallo é a carta ortodoxa mais flexível. Se ele for embora, quem virá? Não aparece nenhum nome na cabeça. O problema é 80% político e 20% econômico”, definiu Kigel.
Um relatório do BBVA parecia confirmar o cenário descrito por Kigel. A Análise Macroeconômica e Setorial de fevereiro do banco sobre a Argentina começa assim: “A crise iniciada no início de outubro do ano passado está superada.”