Presidente admitiu ser ‘possível, que em algum momento’, o governo tenha de ‘afrouxar metas’
SANTIAGO – Num gesto destinado a transmitir segurança no momento em que se abriam os mercados pela primeira vez depois do anúncio, na sexta-feira, do pacote de ajuste fiscal, o presidente da Argentina, Fernando de la Rúa, e seu ministro da Economia, Ricardo López Murphy, vieram ontem de manhã a Santiago, para a abertura oficial da 42.ª Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). De la Rúa aproveitou a cerimônia para afastar o fantasma da moratória e tranqüilizar investidores e credores internacionais.
“Nosso país historicamente sempre honrou e honrará suas dívidas, sem dúvidas, sem questionamentos”, enfatizou De la Rúa, elevando o tom da voz, durante o discurso para uma platéia de presidentes e ministros latino-americanos, banqueiros, executivos de multinacionais e políticos. “Respeitamos nossos compromissos e vamos cumprir as metas.” O sistema de conversibilidade “não será alterado, porque é nossa garantia de estabilidade e desenvolvimento”, continuou. “E a autonomia do Banco Central será respeitada.”
De la Rúa lembrou ter iniciado seu governo com “uma clara mensagem, regulamentando a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), para limitar o déficit, que tem sido um entrave para o país”. O presidente admitiu ser “possível que, em algum momento”, o governo tenha de “afrouxar as metas”, mas assegurou que a LRF “seguirá em pleno vigor”. Ele definiu as medidas como “aprofundamento do curso” seguido por sua administração. “Não há mudança de rumo, não alteramos nosso diagnóstico nem estratégia.”
O presidente argentino garantiu que vai “tornar a Argentina mais atraente para os investidores”, com leis que proporcionam segurança e previsibilidade aos investimentos e com a desregulação da economia. De la Rúa enumerou, ainda, a reforma trabalhista, “que permitirá superar a rigidez do mercado de trabalho e suas regras injustas, que geram desemprego” e a desregulação do sistema de saúde e Previdência.
Quanto às mudança no gabinete, ele disse que “Ricardo López Murphy é o ministro da Economia e certamente se incorporará ao gabinete Domingo Cavallo, (de maneira que) reunimos economistas de alto prestígio, que terminarão as ações, cada um em seus distintos campos, com esses objetivos comuns: assegurar a solvência fiscal, reduzir o déficit em 2 bilhões de pesos e promover o crescimento, atraindo os investimentos e promovendo a confiança no país”.
De la Rúa recebeu apoio. “Ratificamos nossa confiança no governo argentino”, disse o presidente do Uruguai, Jorge Batlle. “Estamos todos de acordo que não se pode viver com déficit fiscal, com inflação, com economia fechada, com tarifas alfandegárias altas e sem desregulação, sem um Estado menor e mais profissional.”
“Quero aplaudir o presidente da Argentina pelo compromisso com o que é a base (do crescimento sustentável)”, disse o presidente do Chile, Ricardo Lagos. “A sorte da Argentina é a sorte de cada um dos nossos países.”
Num intervalo da sessão de abertura, López Murphy, conversou com jornalistas. “Quando se decide um programa de redução de gastos é inevitável que haja resistência e eu diria, pior que isso, manipulação”, lamentou. “Atribui-se que o programa tenta cortar os gastos com as universidades, o que não é verdade: o que se tenta é repassá-los às Províncias, de maneira que elas, liberando-se outras fontes de recursos, encarreguem-se de gastos dos quais a nação se está encarregando.”
À pergunta sobre se o pacote tranqüilizará o mercado, López Murphy disse que acha que sim: “Desde que possamos levá-lo adiante. Essas decisões geraram discussões na Argentina e creio que a iniciativa do presidente de formar um governo de unidade nacional ajuda a encarar com realismo o problema.”
Sobre a entrada de Cavallo no governo, o ministro foi diplomático: “Um governo de unidade nacional deve buscar a máxima representatividade e a maior incorporação de pessoas qualificadas para esse papel, e Cavallo, como homem tecnicamente bem treinado, faz parte desse esforço.”