Policiais e blindados do Exército protegem residência onde o presidente está confinado
LA PAZ – Eles vieram de todos os lados, em filas de centenas de pessoas andando pelas ruas, até se juntar a outros grupos nas avenidas, somando milhares de manifestantes, como ondas humanas. Depois de amanhecer completamente vazia, La Paz foi sendo tomada, por volta das 10h (11h em Brasília) por multidões de camponeses de origem indígena, que se concentraram nas praças Murillo – próxima ao Congresso e ao palácio presidencial -, San Francisco e de los Héroes, as principais da cidade.
Empunhando pedaços de pau e bandeiras, alguns com listras brancas pintadas no rosto, os índios vieram caminhando nos últimos dias de um raio de cem quilômetros ou mais, e passaram a noite de quarta para quinta-feira nos arredores de La Paz. O contingente foi bastante reforçado também pelos indígenas de El Alto, a 15 quilômetros de distância de La Paz, e 500 metros a mais de altitude.
No início da tarde, os manifestantes se sentaram nas praças e aí permaneceram, estoicamente, dizendo que só sairiam dali depois que o presidente renunciasse.
Um cordão de isolamento da polícia, apoiado por tanquetas do Exército, protegia a sede do governo e do Parlamento. A residência presidencial, onde Gonzalo Sánchez de Lozada está confinado desde o fim de semana, também estava isolada por soldados do Exército. Os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar grupos de manifestantes que tentavam avançar na direção desses locais estratégicos.
Indo e voltando pelo Prado, a avenida principal do centro de La Paz, milhares de índios deixaram claro que não pretendiam perder a viagem: “Goni, cabrón, asesino, el pueblo está caliente”, era um dos slogans, chamando o presidente por seu apelido, acrescentando um palavrão e alertando que o sangue do povo estava fervendo. “Gringos, ladrones, fuera de Bolivia” era outra palavra de ordem usada, quando os camponeses reconheciam um jornalista estrangeiro ou passavam pelos hotéis, onde turistas amedrontados, isolados em La Paz, assistiam ao espetáculo.
O velho refrão “o povo unido jamais será vencido” também foi bastante ouvido. Além dos camponeses, pelo menos mil mineiros, alguns com cartuchos de dinamite trazidos das minas, participaram das manifestações, pontuadas por explosões, tanto dessas pequenas granadas, chamadas de cachorros (filhotes), quanto de fogos de artifício trazidos pelos camponeses.
Pelo menos 300 associações de bairros do país aderiram ao movimento. E havia ontem cerca de 200 intelectuais de greve de fome nas igrejas de La Paz, exigindo a renúncia do presidente.