Candidato cocaleiro será fiel da balança na escolha do presidente

Se Morales rejeitar a coalizão com outros partidos, Sánchez de Lozada será eleito

 

LA PAZ — O fiel da balança no Congresso, que escolherá o presidente entre os dois primeiros colocados, será o Movimento ao Socialismo (MAS), do líder cocaleiro Evo Morales. A julgar pelas projeções do Instituto Mori sobre a votação no Senado, Gonzalo Sánchez de Lozada só não será presidente se o MAS apoiar uma eventual coalizão entre a Nova Força Republicana (NFR) e o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR).

Segundo essas projeções, dos 27 senadores eleitos ontem, 12 são do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), de Sánchez de Lozada, 6 do MAS, 5 da NFR, 3 do MIR e 1 da Ação Democrática Nacionalista (ADN). É mais provável que o MIR e a ADN se aliem à NFR do que ao MNR.

Entretanto, se a projeção do Mori estiver certo, essas alianças somam apenas nove cadeiras. Morales disse na sexta-feira ao Estado que o MAS não faria nenhuma aliança no Congresso. Se mantiver essa posição, Sánchez de Lozada estará eleito.

O Estado perguntou no sábado a Sánchez de Lozada, líder da oposição nos últimos cinco anos, se ele se aliaria a partidos que apoiaram o governo e que o acusaram, entre outras coisas, de enriquecimento ilícito.

“Essas acusações nunca tiveram base”, respondeu. “É característica desse governo ameaçar com juízos de responsabilidade. É como alguém que fala mal da cozinheira mas continua indo à mesma pensão.” Em seguida, declarou-se aberto a alianças “baseadas num plano de governo que é flexível”.

Seu candidato a vice, Carlos Mesa, interveio: “Quanto menos aliados, melhor, porque se fazem menos concessões. Mas não vamos fechar a porta a ninguém. Campanhas eleitorais são virulentas por natureza.” Noutra entrevista, no entanto, Guillermo Bedregal, assessor internacional do MNR, admitiu que a NFR, de Reyes, e o MIR, de Jaime Paz Zamora, tentariam fazer um arranjo e excluir Sánchez de Lozada.

“Uma coalizão com a NFR seria muito difícil”, afirmou Bedregal. “Reyes representa um fascismo popular sumamente perigoso.” “Com Paz Zamora, muita gente acredita que não é possível, mas eu penso que é”, declarou o dirigente do MNR. “As velhas brigas são coisa do passado. Mas a bronca dos chefes políticos é maior que sua inteligência.” Em 1989, apenas dois dias antes da posse, o general da reserva Hugo Bánzer, segundo colocado na votação, anunciou seu surpreendente apoio a Paz Zamora, tirando a presidência de Sánchez de Lozada, que tinha sido o mais votado.

Paz Zamora tinha ficado em terceiro. Agora, a Constituição, promulgada em 1995 pelo então presidente Sánchez de Lozada, obriga o Congresso a escolher entre os dois primeiros colocados. A iniciativa de Bánzer originou uma insólita parceria entre ele e Paz Zamora e tornou Sánchez de Lozada inimigo de ambos.

Em 1993, Sánchez de Lozada venceu com 35% dos votos, muito à frente de Bánzer, o segundo colocado, e foi referendado pelo Congresso. Já em 1997, Bánzer venceu com pequena diferença sobre Juan Carlos Durán, do MNR. O MIR, que ficara em quarto, apoiou Bánzer, confirmado pelo Congresso.

Naquela campanha, o MNR acusou Paz Zamora de vínculos com o narcotráfico.

Em entrevista no fim da tarde de sábado, Paz Zamora se declarou disposto a fazer aliança “com qualquer partido que aceite pelo menos fazer uma articulação” de programas. “Não posso negar a um boliviano participação no governo, se ele aceita as regras democráticas e um programa que seja resultado de um acordo”, disse o candidato do MIR.

A votação da legenda de cada candidato a presidente é importante mas não decisiva para obter bom número de cadeiras no Congresso. O Senado tem 27 cadeiras: três para cada Departamento (Estado). O partido vencedor em cada Departamento fica com duas cadeiras. A terceira vai para o partido segundo colocado em cada Departamento. Das 130 cadeiras na Câmara dos Deputados, 68 são preenchidas pelos candidatos mais votados em cada Departamento. Os outros 62 saem das listas encabeçadas por candidatos a presidente, vice e senadores. 


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