Rebeldes aprendem rápido a manipular informação

A entrevista coletiva de Abdel-Hafiz Ghoga já estava terminando, quando uma repórter chegou com uma informação que ninguém tinha. Segundo ela, um combatente rebelde lhe havia dito que um comboio das forças de Muamar Kadafi havia sido bombardeado ontem perto de Benghazi. Ghoga confirmou a informação.

BENGHAZI – Se a repórter não tivesse levantado o assunto, ele não teria dado essa notícia importante – e inconveniente, do ponto de vista dos rebeldes, pois mostra o quanto a capacidade militar do regime permanece robusta.

Assim como vários líderes e porta-vozes rebeldes, Ghoga, advogado defensor dos direitos humanos, nunca tinha tido um cargo político. Mas eles parecem estar adquirindo rapidamente os hábitos dos governantes, particularmente em tempos de guerra, em que a informação é metodicamente manipulada.

No dia 16, quando Ajdabiya foi ferozmente bombardeada com foguetes Grad pelas forças de Kadafi, um voluntário da oposição recebeu um telefonema de um parente na cidade. Em seguida, horrorizado com o que ouvira, veio ao centro de imprensa mantido pela oposição e disse aos jornalistas: “Estão dizendo em Ajdabiya que está havendo um grande massacre lá. Os foguetes estão caindo sobre bairros residenciais. Dizem que é o maior crime já cometido por Kadafi.” Outros voluntários no centro de imprensa o mandaram calar a boca, para não assustar os jornalistas, que poderiam ir embora de Benghazi, com receio do avanço das forças de Kadafi – como de fato aconteceria.

No convívio diário com os voluntários, porta-vozes e líderes oposicionistas, há muitos exemplos assim, de omissões e distorções da informação, conforme as prioridades deles de manter os jornalistas em Benghazi, como testemunhas e escudos humanos, e de demonstrar que a “revolução” caminha para a vitória.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*