Porta-voz rebelde associa abstenção do Brasil no Conselho de Segurança a interesses comerciais
BENGHAZI – Sem que o repórter do Estado tocasse no assunto, Mustafa Gheriani, porta-voz dos rebeldes, começou a falar dele, ao ver o jornalista brasileiro. “Kadafi prometeu dar contratos de petróleo para o Brasil, Índia, China e Rússia’, disse ele, citando quatro dos cinco países que se abstiveram na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizou na quinta-feira a intervenção militar na Líbia – a Alemanha foi o quinto.
“Kadafi é um mentiroso, mas esses países acreditaram nas promessas dele.” Gheriani continuou, referindo-se ao ex-presidente brasileiro: “Lula é um revolucionário também. O Brasil não deveria se deixar comprar por Kadafi.”
O porta-voz procurou tranquilizar os países que têm investimentos na Líbia: “Respeitaremos todos os contratos. Eles são regidos pela lei internacional.” E completou, referindo-se à eventual manutenção dos contratos com os países europeus que apoiam a ação militar, como França, Grã-Bretanha e Itália: “A Europa é o nosso mercado mais próximo. Para que vamos mandar nosso petróleo a 10 mil km daqui? E é natural que matenhamos os contratos já existentes, com os que chegaram primeiro.” Os líbios não esquecerão tão cedo essa votação.
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