Derrota mostra limite de zona de exclusão aérea

Forças de Kadafi vencem rebeldes em Ajdabiya e evidenciam que ataques podem não resolver impasse militar

BENGHAZI – Depois de algumas horas de pausa, para reconhecimento do terreno e avaliação dos resultados, as potências ocidentais retomaram ontem os bombardeios contra alvos em Trípoli e noutras partes do país. Mas uma derrota dos rebeldes em Ajdabiya no fim da tarde serviu para ilustrar o fato de que a zona de exclusão aérea pode não ser suficiente para conter as forças militares do ditador Muamar Kadafi no seu esforço de retomar o controle sobre o país.

Dois fotógrafos que estiveram ontem próximo da entrada leste de Ajdabiya, situada a 160 km de Benghazi, relataram ao Estado uma intensa e desigual batalha entre as forças leais a Kadafi e os combatentes rebeldes. Atacados por uma grande quantidade de disparos de tanques e de foguetes, os rebeldes, armados com peças de artilharia montadas sobre caminhonetes, granadas propelidas por foguetes (RPGs) e fuzis, tiveram de recuar em direção a Benghazi. Assim, as forças leais a Kadafi retiveram a cidade de 150 mil habitantes sob seu controle. Os rebeldes disseram que se reagrupariam ontem à noite e atacariam Ajdabiya pelos flancos.

Funcionários do governo levaram ontem jornalistas estrangeiros para examinar a área do quartel-general de Kadafi atingida por um míssil Tomahawk na noite de domingo em Trípoli. De acordo com os jornalistas, o míssil destruiu um edifício de três andares que aparentemente tinha funções administrativas. Segundo Ibrahim Mussa, porta-voz do governo, havia 300 civis no local, que “voluntariamente servem de escudos humanos, para proteger Kadafi dos bombardeios”.

O porta-voz disse que o míssil caiu a 50 metros de distância do grupo, que inclui mulheres e crianças. “Então o risco de ferir pessoas era real, e estamos realmente gratos a Deus, não aos americanos, porque ninguém se machucou hoje”, disse Mussa, procurando mostrar que o ataque era uma prova da disposição das potências ocidentais de extrapolar o mandato da ONU e de tentar derrubar o regime.

Benghazi, a “capital” rebelde, 1.050 km a leste de Trípoli, teve um dia mais tranqüilo que na véspera. Continuou havendo confrontos entre os milicianos leais a Kadafi e os combatentes rebeldes, que querem “limpar” a cidade da sua presença, mas em menor intensidade. A liderança oposicionista informou ontem às 15 horas locais (10 horas em Brasília) que até então haviam sido mortos 14 desses milicianos, e 40 detidos.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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