Tropas leais a ditador, apoiadas por células adormecidas, aproximaram-se de Benghazi; avião dos rebeldes foi abatido
TOBRUK, Líbia – Forças leais a Muamar Kadafi vindas do oeste e também células adormecidas que estavam na cidade atacaram ontem de manhã os combatentes em Benghazi, principal reduto da oposição. Mas pela tarde foram rechaçadas e recuaram 35 km, de acordo com os combatentes. Às 18h45 (13h45 em Brasília), aviões franceses realizaram a primeira missão na Líbia, sob o mandato do Conselho de Segurança da ONU, destruindo tanques e veículos blindados das tropas de Kadafi.
De acordo com moradores e combatentes, o que causou mais pânico em Benghazi foi a atuação de integrantes dos Lejan Thawria, os comitês revolucionários criados por Kadafi, que esperavam para entrar em ação quando as forças do regime entrassem na cidade. Eles percorriam as ruas da cidade disparando fuzis e lançando granadas de mão aleatoriamente. Pelo menos nove deles foram presos, segundo a oposição. Integrantes das kataeb, as brigadas de elite do regime, que entraram ontem na cidade, também espalharam terror atirando em civis.
De acordo com Mustapha Gheriani, porta-voz do Conselho Nacional Líbio, 50 combatentes morreram ontem em Benghazi, bem como um número indeterminado de civis. Áreas residenciais de Benghazi, como o bairro de classe média alta de Tapalino, foram duramente bombardeadas com baterias de foguetes do tipo Grad, montadas sobre caminhões. Cinco tanques foram confiscados pelos rebeldes. Mas a oposição também sofreu revezes. Um de seus três aviões foi derrubado.
Segundo Gheriani, que veio a Tobruk, 500 km a leste de Benghazi, conversar com os jornalistas, o comboio das forças de Kadafi que invadiu a cidade tinha 2 km e incluía cerca de 150 caminhonetes com metralhadoras artilhadas montadas nas carrocerias. Não ficou claro se eles usaram aviões. Aparentemente navios de guerra foram usados para o desembarque de tropas em Benghazi, situada na costa mediterrânea, e também para lançar foguetes contra a cidade. Na sexta-feira, as tropas do governo estavam 60 km a oeste de Benghazi, e avançaram toda essa distância durante a noite.
Durante o avanço, Kadafi assumiu um tom desafiante, em cartas aos presidentes dos EUA e da França, ao primeiro-ministro da Grã-Bretanha e ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “Se vocês interferirem em nosso país, vão se arrepender”, ameaçou Kadafi. Na mensagem ao presidente Barack Obama, dos EUA, ele assegurou: “O povo líbio está pronto para morrer por mim – homens, mulheres e crianças.” E perguntou: “Como você se comportaria se uma cidade dos EUA fosse ocupada por um grupo de fora?”
Um porta-voz do governo em Trípoli, que leu as cartas em entrevista coletiva, classificou os combatentes em Benghazi, a segunda maior cidade do país, com 1 milhão de habitantes, de “terroristas da Al-Qaeda”. Os rebeldes atacaram as kataeb também em Al-Magrun, que fica no meio do caminho entre Ajdabiya (160 km a oeste) e Benghazi. Os combates continuavam ontem em Ajdabiya. Misrata, a única cidade da região oeste controlada pelos rebeldes, foi intensamente bombardeada na noite de sexta-feira, segundo moradores, e as tropas de Kadafi tentavam avançar em direção ao centro.
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