Rebeldes lançam ofensiva e assumem controle sobre centro petroquímico de Ras Lanuf, no leste, o único que estava sob poder do governo
BENGHAZI – As forças rebeldes consolidaram ontem o seu controle sobre a indústria petrolífera da Líbia, com a tomada do último complexo petroquímico que ainda estava nas mãos do regime de Muamar Kadafi – o da cidade de Ras Lanuf, 380 km a oeste de Benghazi. Moradores da cidade de apenas 4 mil habitantes na costa do Mediterrâneo confirmaram ao Estado ontem à noite que ela estava sob controle rebelde.
Situada 800 km a leste da capital, Trípoli, Ras Lanuf era até quinta-feira a linha divisória dos territórios sob controle do governo, a oeste, e dos rebeldes, a leste. Ela é estratégica por causa da Ras Lanuf Oil & Gas Company, refinaria que produz etileno e polietileno, e também por causa de seu porto, que exporta petróleo cru. Há também duas pistas de pouso na área, uma em Ras Lanuf e outra em Sidra, a 20 km de distância.
As outras duas cidades com instalações petrolíferas controladas pelos rebeldes são Az-Zwayttinah, 140 km a oeste de Benghazi, e Brega, a 230 km do principal reduto oposicionista. Os campos de petróleo ficam no sul do país, no Deserto do Saara, e lá a situação é pouco conhecida. De qualquer maneira, a produção de petróleo, assim como toda a atividade econômica da Líbia, está paralisada.
Com a queda de Ras Lanuf, a cidade importante mais a leste controlada pelo governo passa a ser o porto de Sirt, a cerca de 700 km de Trípoli, reduto da tribo de Kadafi e terra natal do ditador.
Enquanto os rebeldes ampliam seu domínio sobre o leste, as forças leais ao governo consolidam posições no oeste. Elas parecem ter recuperado ontem a cidade de Az-Zawiyah, cerca de 50 km a oeste de Trípoli. Segundo a rede de TV Al-Jazeera, 30 pessoas morreram no combate.
Centenas de combatentes civis e soldados do Exército rebelde concentram-se em Brega, para defender a cidade contra eventual nova tentativa de tomada pelas forças de Kadafi. Os rebeldes afirmaram na quinta-feira que dezenas de caminhonetes com mercenários vindo do Chade cruzaram a fronteira no sul da Líbia e pareciam preparar-se para tentar tomar os campos de petróleo e eventualmente as instalações de Brega, onde moram 2 mil pessoas. Tanques e peças de artilharia do Exército rebelde dão apoio às barreiras erguidas na estrada entre Brega, Ajdabiya e Benghazi.
O abastecimento de Ajdabiya, cidade de cerca de 150 mil habitantes, foi interrompido. Os moradores disseram que as barreiras erguidas na estrada pelas forças leais a Kadafi não permitem a vinda dos caminhões de Trípoli, 1.000 km a oeste. Quatro caminhões grandes e quatro pequenos, provenientes do Egito, chegaram ontem à cidade, com alimentos e medicamentos.
Como aconteceu ao longo de toda a semana, ontem mais uma vez um avião da Força Aérea leal a Kadafi despejou bombas numa área deserta próxima à base do Exército de Hania, em Adjabiya, sem atingi-la. Granadas propelidas por foguetes que estavam na base foram usadas na quarta-feira pelos rebeldes para retomar o controle sobre Brega.
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