CURITIBA – O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, “acampou” na casa de Osmar Dias por dois dias e duas noites, conta o senador.
“Só foi embora quando concordei em sair a governador. ” Osmar nega a especulação segundo a qual o emissário do presidente lhe teria oferecido o cargo de ministro da Agricultura num eventual governo Dilma. “Não há a menor possibilidade”, diz ele. “Serei governador do Paraná.” À pergunta sobre que tipo de pressão Lupi exerceu, Osmar sorri misteriosamente: “Ele trabalhou bastante para que a aliança fosse feita. Afinal de contas, o PDT tem um ministério. “
Enquanto Lupi fazia sua vigília em Curitiba, Gilberto Kassab e o deputado fluminense Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM, conversavam com José Serra na madrugada do dia 29 de junho. “Até as 3 horas eu era candidato a vice”, recorda Álvaro Dias. Saíram com a concordância de Serra de trocar Álvaro por um nome palatável para o DEM e foram para Brasília, reunir-se com outros líderes do partido na casa do senador piauiense Heráclito Fortes.
Com o viva-voz ligado, Abelardo Lupion telefonou para Osmar e lhe disse: “O DEM não vai aceitar o Álvaro. Pode se lançar ao governo. ” Colocou em seguida Maia na linha, que confirmou que não haveria “a mínima volta”. Horas depois, Osmar anunciou sua candidatura ao governo, na chapa costurada por Lupi. Lupion, o elo entre os interesses comuns do governo e do DEM, pediu licença da presidência do partido no Paraná e agora coordena a campanha de Osmar. Segundo um político tucano, a frase de Serra, que havia articulado a composição no Paraná, foi: “Osmar me deu um passa-moleque. Isso não me acontecia desde o movimento estudantil. “
O DEM deu a Serra a prerrogativa de escolher quem quisesse no partido. Serra escolheu alguém que não estava na lista do DEM, o deputado Índio da Costa, por três atributos: relator do projeto Ficha Limpa, uma causa nacional simpática; jovem (39 anos, em contraste com Serra, de 68); e do Rio de Janeiro, terceiro eleitorado do País. Daquele dia em diante, Álvaro e Osmar não se falaram mais. “Se você encontrar com ele, diga que quero o apoio dele”, brinca Osmar. Álvaro tem ido pouco ao Paraná, onde faz campanha apenas para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) ao Senado. Curiosamente, além do ex-governador mineiro Aécio Neves, Fruet era o único nome tucano que o DEM aceitava para a “chapa pura”, na tentativa de acordo horas antes do prazo fatal. Álvaro passa mais tempo engajado na campanha de Serra no resto do País.
Embora tenha tido a maior votação da história do Paraná – 2,776 milhões, quando disputou o Senado em 2006 -, e de contar com o firme engajamento do popular ex-governador Requião, que figura em primeiro lugar isolado nas pesquisas para senador, Osmar está bem atrás de Beto nas intenções de voto. “Segundo nossas pesquisas, 70% dos eleitores ainda não sabem que sou candidato de Dilma e de Lula”, diz ele, esperançoso. É provável que o presidente não eleja o governador do Paraná, embora possa ter garantido as duas vagas do Senado para a base aliada. Mas, acima de tudo, sua intervenção pode ter ajudado a selar o destino da eleição presidencial.