RECIFE – O senador Jarbas Vasconcelos costumava ter um bom relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também pernambucano.
Como deputado federal atuante na área dos direitos humanos, foi o primeiro parlamentar a visitar Lula quando o então líder sindical saiu da prisão, em 1978. Lembra-se do sobrado modesto em São Bernardo, de Lula tapando um buraco no sofá com uma almofada, e da barata que matou na parede.
O afastamento – “ruptura não houve” – aconteceu quando assumiu sua cadeira no Senado, em 2007.
“Eu me decepcionei muito no Senado”, recorda. “Achei que funcionava melhor. No primeiro ano peguei o rolo do (senador) Renan (Calheiros, acusado de aceitar propina de uma empreiteira)
. Bati de frente. Não há constrangimento maior do que assistir às sessões do Senado olhando para (José) Sarney (presidente da Casa), como se nada tivesse acontecido”, acrescenta, referindo-se às acusações de envolvimento em irregularidades. Renan e Sarney pertencem à fatia do PMDB que apoia o presidente Lula.
“Lula e o PT não inventaram a corrupção, mas ele foi conivente”, afirma Jarbas. “Não sabe o dano que causou ao Brasil. As pessoas aqui no terceiro, quarto escalão, dizem: ‘Se lá em Brasília o PT está roubando, não vou fazer o mesmo aqui?'”.
Em contraste, Eduardo Campos, ex-ministro de Ciência e Tecnologia de Lula, gaba-se da gratidão que o presidente tem por ele pelo apoio que lhe deu durante o escândalo do mensalão, quando era líder do PSB na Câmara. A amizade traz dividendos. Numa pesquisa realizada pelo Datafolha no fim do mês, 52% dos entrevistados disseram que votariam num candidato a governador de Pernambuco indicado por Lula; outros 26% responderam “talvez” e apenas 15%, “não”. Dos cerca de 3 milhões de famílias de Pernambuco, 1,1 milhão recebe o benefício do Bolsa-Família.
Ironicamente, o primeiro cargo de Eduardo Campos foi o de chefe de gabinete do secretário de governo de Jarbas, Fernando Correa, no seu primeiro mandato de prefeito do Recife, em 1985 (embora isso não conste de seu currículo no seu site de campanha).
Jarbas era aliado de Arraes, o avô de Eduardo, que governou o Estado três vezes. O pivô da ruptura foi justamente Eduardo, conta Jarbas, por causa de uma discordância em torno da formação de uma chapa para a prefeitura do Recife, em 1988. Arraes lançou Eduardo a prefeito, que ficou em quinto lugar. Jarbas se reelegeu no primeiro turno.
Em 1998, Jarbas desafiou Arraes, então candidato à reeleição, na disputa pelo governo de Pernambuco. Ganhou por mais de 1 milhão de votos de diferença. A derrota humilhante praticamente selou o fim da carreira de Arraes, que depois teria só mais um mandato de deputado federal.
Agora, o senador Jarbas Vasconcelos teme que Eduardo pretenda vingar seu avô nas urnas.