Assentamento precede chegada de enviados de Trump a Israel
Dois enviados do presidente americano, Donald Trump, seu genro e assessor Jared Kushner e seu representante especial para negociações internacionais, Jason Greenblatt, estiveram em Jerusalém e em Ramallah na quarta-feira, para ouvir do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, as condições para um processo de paz.
Trump considera um acordo entre israelenses e palestinos o troféu mais valioso de sua política externa. Outros presidentes americanos já tentaram. Mas, desde o acordo de 1994, que deu origem à Autoridade Palestina, mediado por Bill Clinton, não tiveram êxito. Aliás, o único outro acordo também foi obtido por um democrata – Jimmy Carter, entre Israel e Egito, em 1978.
O que é irônico, porque os democratas sempre foram considerados mais vulneráveis ao lobby judaico do que os republicanos. Isso até Barack Obama, que adotou uma linha um pouco mais dura com relação a Israel e selou o acordo nuclear com o Irã, para desespero de Netanyahu.
Interesses. Trump vislumbrou nisso uma oportunidade de atrair não só a simpatia dos judeus, mas o voto de evangélicos conservadores, que consideram que a Terra Santa está mais protegida nas mãos de Israel do que de um eventual Estado Palestino, até pela presença de grupos radicais como o Hamas, que hoje governa a Faixa de Gaza.
Trump classificou o acordo nuclear de “o pior que já houve”; acenou com a possibilidade de transferir a Embaixada dos EUA de Tel-Aviv para Jerusalém e disse que não está comprometido com a chamada “solução de dois Estados”. Além disso, fez um comentário considerado brando em relação à expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, como algo que “não ajuda a paz”, mas nem mencionou o tema em sua visita a Israel, há um mês, para alegria dos colonos.
O próprio perfil de Kushner, judeu ortodoxo, representa um ponto de partida problemático: seu pai é amigo de Netanyahu, e a fundação pertencente a sua família fez doações a um assentamento judaico.
Diante de todos esses sinais favoráveis, na véspera da chegada dos enviados de Trump, o governo israelense iniciou a construção de um novo assentamento na Cisjordânia, algo que não acontecia em 25 anos.
Por sua localização, a nova colônia impõe mais um obstáculo a um território contínuo na Cisjordânia, já bastante fragmentada pela presença de 121 assentamentos autorizados e 102 não autorizados, que abrigam mais de 300 mil judeus. Sem falar em Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como sua futura capital, onde vivem 200 mil judeus.
Israelenses e palestinos concordam que os assentamentos não são um obstáculo intransponível a um acordo: é possível transferir parte deles e compensar os palestinos com áreas equivalentes em território israelense pelos que permanecerem na Cisjordânia.
O problema maior na retomada das construções é o conteúdo político, o gesto de provocação. “Depois de décadas, tenho a honra de ser o primeiro premiê a construir um assentamento na Judeia e Samaria”, disse Netanyahu, usando os nomes bíblicos pelos quais os judeus ortodoxos – que estão em sua coalizão de governo – reivindicam a Cisjordânia. “Não houve e nunca haverá um governo tão bom para os assentamentos como os nossos.”
Não é uma forma muito construtiva de se engajar em negociações. Mas nas últimas três semanas que passei em Israel e nos territórios palestinos, praticamente ninguém manifestou otimismo com a mediação americana.
Não que a região esteja paralisada: o duro bloqueio do governo militar egípcio à Faixa de Gaza levou o Hamas a se distanciar da Irmandade Muçulmana e a possibilidade de um processo de paz, a aceitar um Estado palestino nas fronteiras anteriores a 1967. Para depois reivindicar o atentado que matou uma sargento da polícia israelense em Jerusalém Oriental.
É da cultura e da dinâmica da região trazer um ramo de oliveira numa mão e um fuzil na outra, para usar a imagem de Yasser Arafat. Até aqui, tem prevalecido o fuzil, de ambos os lados.
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