Minoria indiana se queixa de privilégios dos negros, falta de segurança e de empregos
DURBAN – Assim como muitos muçulmanos de Durban vêm de Gujarat, muitos hinduístas são da etnia tâmil, originária do Estado indiano de Tamil Nadu (onde 88% praticam o hinduísmo) e também de Sri Lanka, a ilha ao sul da Índia, onde têm um violento movimento separatista. Diferentemente dos gujaratis, a atual geração de tâmeis em Durban não cultiva as raízes de seus pais e avós e são esquivos a perguntas sobre suas origens.
“Não sei exatamente de onde vieram meus bisavós, meus pais não falam sobre isso”, diz Pouvaindri Nair, de 40 anos, que trabalha como caixa de uma loja de departamentos. Na testa, ela tem a tilaka, a inconfundível marca vermelha dos hinduístas, que representa a “terceira visão” e permite defender-se dos maus espíritos. Casada com um tâmil, ela fala inglês com seus filhos. “Não tenho problemas com os outros grupos, mas me relaciono só com tâmeis e outros indianos”, conta Pouvaindri, que aos sábados não come carne e vai ao templo hinduísta perto de sua casa.
Os avós de Barbara Pilay nasceram na Índia, mas ela também não sabe onde. “Eu era pequena quando eles morreram, e não perguntei aos meus pais”, diz Barbara, de 45 anos, casada com um alemão católico. Sua visão sobre a África do Sul é parecida com a dos brancos.
“Depois do fim do apartheid, tudo mudou. Não estamos seguros em nossas próprias casas, não podemos andar na rua”, queixa-se Barbara, que trabalha numa banca de pescados no Victoria Street Market, um mercado de peixes e verduras em frente à mesquita, cujas bancas se repartem entre negros e indianos hinduístas e muçulmanos. Ela cita também o problema da oferta de empregos. Sua filha de 28 anos estudou contabilidade na Universidade, mas não conseguiu um bom emprego. Trabalha como gerente numa loja de tecidos. “Não sou racista, mas estávamos melhor antes.”
“Antes era bem melhor”, concorda Bradley Mutasami, de 27 anos, cujo pai veio criança de Mumbai e aqui se converteu em cristão pentecostal. Ele tem razões fortes para pensar assim. Mutasami conta que trabalhava numa empresa multinacional de entrega de encomendas e nunca teve problemas de dinheiro.
Até que, em novembro, foi golpeado no lado esquerdo da cabeça por um bloco de concreto que servia de base de uma placa de trânsito. Não se sabe quem o atacou por trás. “Fui confundido com outra pessoa.” Depois de um mês inconsciente no hospital, perdeu o carro para o banco e o emprego. Hoje dirige um táxi velho para outra pessoa, que exige que ele faça no mínimo 1.000 rands (US$ 133) por dia para lhe pagar 120 (US$ 16).
“O racismo se inverteu”, constata Mutasami, casado com uma descendente de indianos também pentecostal, e com um casal de filhos. “Agora são os negros contra os indianos e brancos. Qualquer coisa, eles o acusam de racismo. E têm a polícia do lado deles.”
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