A classificação racial prescrita Pela Lei do Registro da População provocou situações grotescas.
A própria definição da raça dos bebês sul-africanos, com no mínimo nove subgrupos, era um desafio. Casos duvidosos requeriam uma investigação detalhada da raiz do cabelo, palmas das mãos e solas dos pés, com a parte de baixo das cutículas tendo um papel decisivo.
Todos tinham o seu “método infalível”. Um deles era o teste do lápis, lembra o jornal inglês The Guardian, num recente artigo. Um lápis era colocado no cabelo da pessoa, que era instruída a se curvar. Se o lápis caísse, tratava-se de um branco, se não, não. Como se dela não dependessem todos os atos da vida do cidadão, a classificação mudava ao sabor dos critérios dos burocratas.
O político mestiço Ishmail Essop foi classificado como malaio do Cabo, dois de seus irmãos como mestiços, outro como branco, duas irmãs mestiças e um indiano. Em 1959, quando os motoristas de táxi foram instruídos a só carregar gente de sua raça, um mestiço protestou. Ele não poderia levar sua mãe e sua mulher, classificadas como brancas.
Citando o livro Apartheid, The Lighter Side, de Ben McLennan, o jornal relata o trágico caso de Sandra Laing, portadora de uma doença que fazia sua pele escurecer. Sandra foi reclassificada três vezes. Em 1973, um engano fez com que uma ambulância para negros fosse buscar dois brancos feridos num acidente de trânsito. A ambulância teve de voltar vazia, e um dos brancos morreu.
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