Dirigente do encontro e representante da ONU querem saber quem será beneficiado e onde
JOHANNESBURG – O secretário-geral da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, o indiano Nitin Desai, elevou dramaticamente as expectativas em torno do evento. “Minha expectativa é a de que, no dia 5 de setembro (um dia depois do encerramento), possamos dizer quantas pessoas, e onde, poderão se beneficiar dos compromissos firmados aqui”, disse Desai, durante entrevista coletiva no início da tarde deste domingo, em Johannesburgo.
A afirmação destoa das declarações feitas por autoridades do mundo inteiro, que têm tentado reduzir as expectativas quanto a benefícios concretos e imediatos provenientes da reunião, explicando que esse é um longo processo, tanto de construção de consenso em torno de compromissos quanto de pressão social pelo seu cumprimento.
Para Desai, a diferença fundamental entre essa cúpula e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada há dez anos, é que a do Rio “procurou mudar a maneira como as pessoas falavam do meio ambiente”, enquanto em Johannesburgo se trata de “mudar a maneira como as pessoas agem”.
Além disso, afirmou o secretário-geral, “o Rio foi o começo do engajamento em grande escala da sociedade civil”, sobretudo para exigir que os governos adotassem ações em favor do meio ambiente. Agora, a ênfase é nas parcerias, envolvendo a sociedade civil diretamente na implementação.
A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Nkosazana Dlamini-Zuma, reconheceu que “os recursos são limitados” para as ambiciosas metas de erradicação da pobreza e promoção do desenvolvimento sustentável, contidas no esboço do Plano de Implementação da Agenda 21, que está em discussão. “Mas precisamos ter algum dinheiro e algumas metas”, acrescentou, listando áreas como saneamento básico, saúde, educação e nutrição. A ministra fez uma preleção de meia hora sobre as ligações entre pobreza e aids, o flagelo que assola a África em geral e a África do Sul em particular.
Nkosazana, que abriu a coletiva, admitiu as dificuldades do atual processo de negociação. Segundo ela, os negociadores terão que resolver em Johannesburgo até mesmo diferenças que não apareceram na reunião preparatória de Bali, em maio e junho. “O plano (de implementação) terá que ser agora endossado formalmente”, explicou a chanceler. “Todos sabem que essa é a última etapa. Não haverá outra chance.”
De acordo com o embaixador do Brasil na ONU, Gelson Fonseca, que chefia a equipe de negociadores brasileiros, as discussões sobre os 25% do Plano de Implementação para os quais não foi atingido consenso em Bali devem se arrastar até quarta ou quinta-feira, “numa estimativa otimista”. O plano deverá ser firmado pelos chefes de Estado e de governo, ao lado de uma declaração política, até o dia 4, quando se encerra a cúpula.
A chanceler sul-africana tentou relativizar o impacto negativo da ausência do presidente americano, George W. Bush que enviará em seu lugar o secretário de Estado, Colin Powell , argumentando que “presença física” não é tudo. “Há, aqui, centenas de cidadãos americanos, que expressam tanto quanto o governo”, disse ela. Até a noite de sábado, haviam chegado 9.344 delegados à conferência, dos quais 2.103 eram jornalistas. Há mais de 70 mil pessoas inscritas. Cento e quatro chefes de Estado e de governo confirmaram presença, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo os organizadores do evento, faltam alguns para dar resposta. A Rio-92 teve a participação de 108 chefes de Estado e de governo.
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