Muitos estrangeiros ainda estão desaparecidos e número de mortos pode aumentar
NIONO, Mali – Um dia depois de encerrada a sangrenta operação de resgate no complexo de gás de In Amenas, perto da fronteira entre a Argélia e o Mali, ainda não havia ontem à noite um número total de mortos – e suas nacionalidades. De acordo com o Exército argelino, ao menos 23 reféns e 32 sequestradores foram mortos, mas o ministro das Comunicações da Argélia, Mohamed Said, declarou que “teme fortemente que o número será revisto para cima”. Militares argelinos ainda vasculhavam o complexo ontem, em busca de corpos.
O detalhamento do número de mortes por nacionalidade tem vindo da parte das empresas e países que tinham trabalhadores no local, e que estão desaparecidos. A construtora japonesa JGC, por exemplo, informou que não havia notícias sobre o paradeiro de 17 de seus funcionários – 10 japoneses e 7 de outros países. De acordo com o governo da Malásia, havia 5 cidadãos do país trabalhando para a JGC no complexo, dos quais 3 sobreviveram e 2 estão desaparecidos.
Já o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, disse que 7 cidadãos do país podem ter morrido no episódio. A morte de apenas um deles foi confirmada até agora. A companhia de petróleo norueguesa Statoil anunciou que o paradeiro de 5 de seus empregados era desconhecido. Havia ainda americanos, franceses, romenos e um austríaco dentre os cerca de 100 estrangeiros no complexo, tomado por combatentes islâmicos na madrugada de quarta-feira. Outros 550 eram trabalhadores argelinos, mas a maioria escapou. Segundo um funcionário argelino, os sequestradores disseram que os reféns muçulmanos não tinham nada a temer, e que estavam interessados nos “cristãos e infieis”.
O grupo responsável pelo sequestro é liderado pelo argelino Moktar Bel Moktar, que se retirou recentemente da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) para criar sua própria “franquia”, juntamente com outro argelino, Abu Zeid. Eles estão baseados no norte do Mali, e a ação foi uma retaliação contra a cooperação da Argélia, que abriu seu espaço aéreo para a passagem dos aviões franceses que atacam posições dos combatentes islâmicos em território maliense.
Ironicamente, Moktar é considerado mais pragmático que Abu Zeid, que em 2010 decapitou um britânico e executou um francês depois de uma frustrada tentativa de resgate dos reféns, que deixou 6 militantes da AQMI mortos. Moktar costuma preferir dinheiro a sacrificar suas vítimas, e estima-se que ele obtenha US$ 3 milhões por refém ocidental.
A AQMI é um dos grupos radicais islâmicos que ocupam o norte do Mali desde o início do ano passado, ao lado do Ansar Dine, seu aliado, e do Movimento pela Unidade e Jihad na África Ocidental (Mujao). A tomada do território, que se estende por 840 mil km2, ou dois terços do país, teve a participação também do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), composto por tuaregues vindos da Líbia depois da queda de Muamar Kadafi, que os patrocinava. Mas o MNLA, de orientação laica, rompeu com os combatentes islâmicos por causa de seu plano de implantar uma república islâmica em todo o Mali.
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