Depois de bombardeios franceses, jihadistas abandonaram Douentza sem lutar
SOMADOUGOU, Mali – Apoiado pela aviação francesa, o Exército do Mali ocupou ontem a cidade de Douentza, 145 km acima da linha de demarcação que separa o território controlado pelos grupos islâmicos. A cidade era ocupada desde setembro pelo Movimento pela Unidade e Jihad na África Ocidental, uma dissidência da Al-Qaeda. Castigado pelos bombardeios franceses, o grupo abandonou, sem resistência, a cidade de 30 mil habitantes, conforme constatou na segunda-feira uma missão avançada de soldados malienses e franceses.
A porta-voz do Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Mali, Julie Damond, disse ontem à noite ao Estado que o grupo de assistência humanitária não registrou nenhum morto ou ferido em Douentza. Já em Timbuctu, outra cidade do norte controlada pelos combatentes islâmicos desde abril, o MSF atendeu 15 feridos desde o início dos bombardeios franceses. A entidade não diferencia os pacientes entre civis e militares.
A nordeste, em Gao, mais para dentro do território ocupado pelos islâmicos, o MSF tem informações da existência de feridos, mas eles não têm tido acesso ao hospital, por causa dos bombardeios, disse a porta-voz. Em Douentza, pela mesma razão, a equipe do MSF estava confinada ao hospital até ontem, “mas isso deve mudar agora”, completou Julie.
O repórter do Estado tentou cruzar a linha de demarcação do conflito, mas foi impedido por militares malienses em Somadougou, 28 km ao sul de Sévaré, localizada nessa linha. Uma equipe do jornal Le Monde, que está em Sévaré, chegou a ser detida por algumas horas por militares malienses.
De acordo com relatos citados pela Associated Press, os extremistas islâmicos haviam obrigado as mulheres em Douentza a cobrir a cabeça com um véu e recrutado crianças de até 12 anos como soldados. No domingo, as tropas malienses assumiram o controle de Diabaly, cidade de 15 mil habitantes fora do território ocupado pelos grupos islâmicos, a 380 km ao norte da capital, Bamako. No dia 18, o Exército maliense havia anunciado ter o “total controle” sobre Konna, 70 km ao norte da linha de demarcação, cuja invasão pelos combatentes islâmicos desencadeou a intervenção francesa, lançada no dia 11.
Em Diabaly, onde o repórter do Estado esteve na segunda-feira, as mulheres tinham começado a usar o véu, por precaução, mas os extremistas ligados à Al-Qaeda no Magreb Islâmico disseram que imporiam a Sharia, a lei islâmica, a partir do dia 18, quando acabaram abandonando a cidade, assustados com os bombardeios franceses.
O coronel Thierry Burkhard, porta-voz das forças franceses, anunciou que o país já reúne 2.150 soldados no Mali. O contingente deve chegar a 2.500. Cerca de 1.000 soldados também já chegaram de países vizinhos – Nigéria, Togo, Benin, Níger e Chade. Os países da África Ocidental devem contribuir com 3.300 homens.
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