Três cidades ocupadas por jihadistas já foram recuperadas
BAMAKO – A aviação francesa prosseguiu ontem nos bombardeios a posições dos insurgentes islâmicos no território controlado por eles no norte do Mali, abrindo caminho para o avanço do Exército maliense. Um morador de Ansongo, perto da fronteira com o Níger, disse à agência alemã DPA que os militantes deixaram a cidade, por causa dos bombardeios. Na cidade de Timbuctu, uma das mais importantes sob controle rebelde, posições dos insurgentes também foram bombardeadas ontem.
De acordo com um morador ouvido pela DPA, um palácio construído em Timbuctu pelo ex-ditador líbio Muamar Kadafi, onde os rebeldes instalaram seu quartel-general, foi atingido. Mas eles ainda não haviam desocupado a cidade ontem. Os bombardeios já permitiram a retomada de três cidades: Konna e Douentza, no território rebelde, e Diabaly, situada ao sul da linha de demarcação do conflito. A ocupação é feita pelo Exército maliense. As tropas francesas ficam na retaguarda, em Sévaré, na linha de demarcação.
Aviões americanos C-17 começaram a participar do transporte de tropas e de cargas do sul da França para o Mali. De segunda-feira até ontem os aviões já haviam trazido 80 militares franceses – que somam 2.250 no Mali – e grande quantidade de suprimentos, desembarcados no aeroporto de Bamako. O Parlamento da Itália aprovou o envio de 15 a 24 militares italianos para ajudar no treinamento dos soldados dos países da África Ocidental que vão participar da missão. Mais de mil soldados africanos já chegaram, de um contingente que deve alcançar 3.300. O plano é treiná-los por três semanas antes de eles entrarem em ação.
A Federação Internacional de Direitos Humanos divulgou ontem um relatório no qual acusa o Exército maliense pela execução, desde o dia 10, de 33 pessoas suspeitas de serem militantes islâmicos e também tuaregues – a etnia predominante no movimento separatista lançado no norte do país no início do ano passado.
Em Siribala, cerca de 300 km ao norte de Bamako, o Estado ouviu no domingo relatos de moradores sobre a execução do tuaregue Abu Krim Marabou e de seu empregado, um pastor cujo nome os vizinhos não sabiam. Segundo os moradores, o ataque ocorreu às 14h de sexta-feira.
A família enterrou o corpo de Marabou em uma vala rasa no pátio de terra da casa, antes de fugir. Quando o repórter do Estado chegou, não havia ninguém na casa. Marryn Daa, um vizinho, mostrou fotos de Marabou e do pastor mortos. Ele contou que essas fotos foram transmitidas para seu celular por vizinhos. Daa e os outros moradores não souberam dizer se Marabou militava em algum grupo insurgente.
Uma testemunha ouvida pela Associated Press afirmou que militares malienses capturaram no dia 10 em um ponto de ônibus em Sévaré pessoas que não tinham carteiras de identidade ou suspeitas de serem militantes islâmicos, executaram-nas e jogaram seus corpos em dois poços. Os militares malienses negam as acusações.
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