Forças argelinas encontram 15 corpos carbonizados em complexo

Sangrenta operação de resgate chegou ao fim ontem

NIONO, Mali – A sangrenta operação de resgate no complexo de gás de In Amenas, no sul da Argélia, chegou ao fim ontem, com a morte de mais 7 reféns estrangeiros e 11 sequestradores. O total de mortos ainda não estava consolidado ontem à noite, mas, antes do ataque final de ontem, já havia ao menos 30 mortes confirmadas. Outros 16 reféns saíram vivos. As forças especiais argelinas encontraram ontem 15 corpos carbonizados dentro do complexo, de acordo com uma fonte ouvida pela agência Reuters.

No total havia 650 reféns, dos quais 550 argelinos e os restantes, de diversas nacionalidades. A operação enfureceu governos de países cujos cidadãos foram mortos – incluindo americanos, britânicos, japoneses e noruegueses -, que disseram não ter sido avisados da decisão. Um refém irlandês disse ter visto quatro jipes cheios de reféns explodir, atingidos por projéteis disparados por aviões argelinos, no início da intervenção, na quarta-feira.

Os argelinos alegaram que os radicais islâmicos, comandados por Abdul Rahman al-Nigeri, do Níger, pretendiam fugir para outros países com os reféns. O grupo é vinculado à Al-Qaeda do Magreb Islâmico, chefiada pelo argelino Moktar Bel Moktar, veterano da guerra dos mujaheddin (combatentes islâmicos) contra os soviéticos no Afeganistão, nos anos 80, e da guerra civil na Argélia, na década de 90. Eles exigiam que a Argélia fechasse o espaço aéreo para os aviões franceses que bombardeiam as posições dos radicais islâmicos no Mali. Em troca dos reféns americanos, pediam também a libertação do egípcio Omar Abdel-Rahman, conhecido como “o xeque cego”, preso nos Estados Unidos, acusado de ordenar o atentado contra o World Trade Center em 1993.

O Exército francês concentrou suas forças ontem em Niono, a 45 km de Diabaly, ocupada pelos combatentes islâmicos na segunda-feira. Um comboio partiu de Markala, 67 km ao norte, onde as forças francesas estão estacionadas, para Niono, às 16 horas locais (14 horas em Brasília). O Estado contou 13 blindados, 4 veículos com canhões montados sobre eles e 2 caminhões de transporte de tropas. Em Niono, onde estão concentradas as tropas do Mali, os franceses foram recebidos aos gritos de “Viva a França” e “Bravo” pelos moradores. O Mali foi colônia francesa até 1960. A chegada do comboio foi precedida de vôos razantes de um caça francês.

Às 20 horas locais, um comboio com um veículo blindado e dez camionetes do Exército maliense chegou a Niono, vindo de Diabaly. O tenente-coronel Seidou Sogoba, comandante do Exército em Diabaly, disse ao Estado que eles traziam munição deixada pelos “jihadistas” na cidade. Segundo ele, havia três casas cheias de munição. A cidade ainda não foi reocupada pelos malienses e franceses, e os militares não revelam quando isso ocorrerá.

O capitão Ibrahim Samassa, que comanda uma companhia em Diabaly, havia dito mais cedo ao Estado que os combatentes islâmicos já não eram mais visíveis na cidade. Todos os seus veículos que restaram dos bombardeios franceses partiram para o norte, provavelmente refugiando-se na floresta de Ouagadou, a 150 km. Segundo o tenente-coronel Sogoba, os combatentes islâmicos têm armas “muito potentes e sofisticadas, e atiram com precisão”.

Os invasores chegaram à cidade na madrugada de segunda-feira, em 42 veículos. De acordo com o capitão Samassa, eles pernoitaram em Diambé, 25 km a leste, e alguns de seus moradores alertaram o Exército maliense. À pergunta sobre por que os franceses, que sobrevoavam o Mali desde o fim de semana, não captaram sua movimentação, Samassa explicou que eles se deslocam em pequenos grupos, de dois a três veículos.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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