Diabali foi tomada na segunda-feira pelos militantes da Al-Qaeda no Magreb Islâmico
BAMAKO – Soldados das forças especiais da França entraram ontem em confronto com combatentes radicais islâmicos em Diabali, 400 km ao norte de Bamako, a capital do Mali, no primeiro combate corpo-a-corpo desde o início da intervenção francesa, no fim de semana. A informação foi dada pela agência France Presse, com base em duas fontes diferentes, uma do Exército maliense e outra de forças de segurança da região.
Diabali foi tomada na segunda-feira pelos militantes da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (Aqmi), num avanço desconcertante, em que chegaram mais perto ainda de Bamako do que antes dos bombardeios franceses. Desde então, expulsá-los de lá tornou-se uma questão de honra para os franceses, que no entanto precisaram primeiro, por meio dos bombardeios aéreos, cortar as linhas de suprimento e tolher os movimentos dos insurgentes.
Uma coluna de 30 blindados franceses partiu na madrugada de ontem do aeroporto de Bamako para Diabali, também com a missão de entrar em combate por terra com os militantes islâmicos, mas as tropas regulares preferiram estacionar na cidade de Niono, 70 km a sudoeste de Diabali, onde se juntaram a forças do Exército maliense. Devem avançar hoje ou no mais tardar amanhã para a cidade.
Aparentemente os combatentes islâmicos são comandados pelo argelino Abu Zeid, um dos líderes da Aqmi. Segundo a Associated Press, moradores que fugiram de Diabali, cidade de 35 mil habitantes, disseram que os militantes haviam tomado suas casas e estavam tentando impedir as pessoas de sair da cidade. “Eles usam barba e vestem boubous”, contou um morador, referindo-se aos tradicionais robes usados por homens no Oriente Médio, Norte da África e outras regiões muçulmanas. “Todo mundo está com medo.” Cerca de 90% dos malienses são muçulmanos, mas a maioria tem um estilo de vida liberal.
Um grupo de combatentes cruzou ontem a fronteira norte do Mali e invadiu instalações da BP na Argélia, tomando dezenas de reféns. Dois estrangeiros morreram e seis ficaram feridos. Não há detalhes sobre o número e a nacionalidade dos reféns, mas parece haver japoneses e americanos entre eles. Já havia no Mali oito reféns franceses, que a Aqmi ameaçou matar.
A França já conta com 800 soldados em terra no Mali, e esse número deve chegar a 2.500. Aliados europeus e os Estados Unidos contribuirão com apoio logístico e inteligência de satélites. Os países da África Ocidental prometem fornecer 3.300 homens, que serão treinados por militares europeus e gradualmente substituirão os franceses.
A intervenção havia sido autorizada pelo Conselho de Segurança em outubro, depois que separatistas tuaregues e combatentes islâmicos consolidaram, em maio, o controle sobre três províncias do norte do Mali. Mas a operação, para “restaurar a ordem”, seria conduzida pelos países da região, e estava prevista para começar apenas em setembro, dadas as limitações de mobilização dos Exércitos africanos. Foi precipitada pelo avanço de combatentes islâmicos, que no dia 10 cruzaram a linha de demarcação do conflito, tomaram a cidade de Konna e se preparavam para seguir para Mopti, considerada a última etapa antes de Bamako.
A capital do Mali – bastante acanhada, apesar de seus 3 milhões de habitantes – continuava calma ontem. De extraordinário, havia um bloqueio da polícia nos dois lados da avenida que dá acesso ao aeroporto. O motorista e o guia do repórter do Estado perguntaram ao policial se eles estavam controlando a entrada e saída de pessoas do país. “Fiquei do lado de cá para ver se vem alguma coisa boa de fora”, brincou o policial.
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