Líder diz que movimento é formado apenas por malienses e rejeita agenda internacional de Ansar Dine
BAMAKO – Duas semanas de bombardeios franceses produziram uma fratura no Ansar Dine (Defensores da Fé), um dos grupos radicais islâmicos que controlam o norte do Mali. O líder tuaregue Alghabass Ag Intalla anunciou a criação de uma facção dissidente, o Movimento Islâmico do Azawad – como os separatistas denominam as três províncias do norte – e declarou-se disposto a juntar-se à França e ao Exército maliense na luta contra o Ansar Dine.
Em um manifesto enviado à Rádio França Internacional, Ag Intalla destacou que seu grupo é formado exclusivamente por malienses. Isso significa uma rejeição à agenda internacionalista do Ansar Dine, uma ramificação da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) composta por combatentes argelinos, mauritanos e, segundo, relatos ouvidos pelo Estado em Diabaly, ocupada pelo grupo durante cinco dias, até mesmo paquistaneses mujaheddin (combatentes islâmicos) veteranos da luta para expulsar os soviéticos do Afeganistão nos anos 80.
“Queremos travar nossa guerra, e não a da AQMI”, disse Ag Intallah à agência Reuters, pelo telefone. “É preciso haver um cessar-fogo para que haja diálogo”, afirmou ele, falando do quartel-general do novo grupo em Kidal, no nordeste do Mali, onde o Ansar Dine também mantém sua sede.
Ag Intalla foi um dos representantes dos tuaregues que se reuniram com diplomatas malienses na vizinha Burkina Faso no fim do ano passado, na busca de uma saída negociada para o conflito desencadeado pela ocupação de dois terços do território do país, no primeiro semestre do ano passado. Assim como o Movimento Nacional de Libertação do Azawad, de orientação laica, o novo grupo contenta-se com a autonomia em vez da independência, e sobretudo não tem interesse na conversão do Mali em uma república islâmica, o objeto do Ansar Dine, que atraiu a intervenção da França. Não se sabe quantos combatentes o novo grupo traz consigo.
Cerca de 160 soldados de Burkina Faso substituíram ontem as tropas francesas que guardavam uma ponte sobre o Rio Níger em Markala, 254 km ao norte de Bamako. Foi a primeira vez que as forças dos países vizinhos, que já somam mais de mil homens no Mali, entraram em ação.
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